22 de março de 2009

A Taça da Vergonha

Normalmente não pactuo com actos de indisciplina, nem individuais, nem colectivos. E ao serviço de uma instituição ainda menos. Porque ao serviço de uma instituição, somos sempre mais do que nós próprios, representamos a instituição, a sua história, o seu passado e todos os que a ela pertencem ou pertenceram. Devemos, assim, protestar, sempre, pelos meios adequados, mas não através de actos de indisciplina. Esta é a regra.
Há porém aqui, como em tudo na vida, excepções. E uma excepção para mim foi o que aconteceu ontem, na final da Taça da Liga. O atirar da medalha para longe por parte do jogador do Sporting, Pedro Silva, sendo aparentemente um acto de indisciplina, foi, a meu ver, e apesar de algumas nuances mais de forma do que de substância, um acto justificado. Discordo da peitada ao árbitro, discordo de lhe ter chamado ladrão, discordo mesmo de ter atirado a medalha para longe, mas concordo inteiramente com o facto de não ter deixado colocarem-lhe a medalha ao peito. Eu recebê-la-ia e deixá-la-ia lá, aos pés de Hermínio Loureiro. E ficaria satisfeito se a direcção e toda a equipa lá tivessem deixado as medalhas.
Perante o que aconteceu, onde aconteceu e como aconteceu, eu acho que Pedro Silva com o que fez honrou mais a instituição que serve do que a denegriu. Há alturas em que um certo tipo de
indisciplina se torna justificado. Foi ontem.

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8 de março de 2009

Technicolor II

Continuando na boa onda do tecnicolor, mais um filme que não é a preto e branco: O Leitor, belíssimo filme, da que parece ser a boa safra de 2008. É um filme intuitivo sobre o crescimento interior do intérprete masculino que faz um notabilíssimo percurso pessoal, que vai do desejo físico do jovem de 15 anos por uma mulher mais velha, à paixão por ela, à culpa, ao remorso, ao dilema moral para impedir uma condenação severa, à remissão, quando lhe fornece cassetes com livros gravados, à compaixão e à gratidão, quando providencia o acolhimento aquando da libertação, à catarse final do destino a dar aos seus bens pessoais, e por fim à absolvição, com a confissão final à filha. É uma viagem íntima, pessoal. Fundamental, fundamentalíssimo no seu percurso – ele é advogado – é a compreensão, ainda estudante, da diferença entre a moral e a lei, e de como a lei, por si só, é quase sempre muito incompleta para entender e julgar o mundo. A diferença entre o legalismo do professor de Direito, do colega a preto e branco com quem discute no auditório, e do próprio juiz do julgamento de Nuremberga e os que a procuram compaginar com a moral e com a ética, é igualmente um por(maior)menor relevante.
Kate Winslet tem um desempenho notável de uma mulher rude, que não chega a entender completamente o mundo que a rodeia, que responde primitivamente aos impulsos, sem qualquer crivo moral, que cumpre rotineiramente o que lhe mandam, sem se interrogar. Também aí a maldade é desmistificada. Ela não é a encarnação absoluta do mal. É apenas uma mulher rústica, quase ignorante, que acreditava cumprir o seu dever. Não lhe faltam, porém, a sensibilidade no maravilhamento com a literatura, a honestidade da sua postura no julgamento, a dignidade na morte.
Viva o tecnicolor!

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