11 de dezembro de 2008

Esbirros e juízes…

A minha mãe sofreu numa sexta-feira, véspera de um fim-de-semana prolongado, uma intervenção cirúrgica simples num conhecido hospital privado de Lisboa. Apesar de ser uma intervenção simples e com anestesia geral, saiu nesse mesmo dia com uma prescrição médica para o pós-operatório que se compunha de dois medicamentos. Um deles, porém, parece que estava esgotadíssimo – disseram-me na farmácia. Nem sequer valia a pena procurar! Como o médico deixou telemóvel, liguei para ele. Como não atendeu, deixei mensagem explicando a situação, pedindo que quando a ouvisse me ligasse de volta. Após o telefonema e à cautela, perguntei à minha mãe a idade do dito médico. Cinquenta e tal anos, diz ela. Contas de cabeça e pensando que o homem ainda pudesse ser uma daquelas abencerragens que acha que é Deus no Céu e o médico na Terra, telefonei para o fixo do hospital, explicando a situação e pedindo que contactassem o médico. Quem atendeu, uma daquelas recepcionistas-tipo, formatada, foi logo dizendo que não, que não podiam ligar para o «senhor professor», que não havia quem substituísse o «senhor professor», que só depois dos feriados e para «ir tentando» para o telemóvel do «senhor professor»... Percebi logo onde estava: a criatura nunca iria perceber que estava num hospital, não estava a aviar batatas na mercearia da esquina...
Dez minutos depois, o médico liga-me. Inteira-se do estado da minha mãe, faz um comentário de circunstância sobre o estado do stock do dito medicamento e prescreve um sucedâneo. Foi cordial, afável, disponível. Em nenhum momento achei que o homem se tenha dado ares. Muito pelo contrário. Senti sempre horizontalidade no trato e até mais, senti que ele me tratava como se fosse a parte forte da relação que na verdade sou, porque sou cliente e pago. Se, no caso, há alguém que tem forçosamente de agradar e de ser simpático é ele. E foi-o. Naturalmente, agradeci-lhe por ter ligado, sublinhando ainda por ter ligado prontamente!
Curiosamente, no caso, neste como noutros, os esbirros são muitas vezes piores do que os juízes. E a mocinha do atendimento revelou vários defeitos: 1.º Não ter dado nenhuma solução ao caso como deveria; era o Hospital que deveria providenciar o contacto com o médico ou em alternativa com outro médico: o doente é que não pode ficar sem prescrição durante três dias e/ou resolver por si a situação; a operação foi feita num hospital e paga ao hospital; 2.º Quando eu referi o «sotôr» - desconhecia até que o homem fosse professor – e ela retorquiu matraqueando insistentemente com o «senhor professor», não o deveria fazer; isso era inteiramente dispensável; aquilo não é um hospital universitário, não estamos na faculdade, ali quem está é o médico especialista, não é o professor universitário; 3.º Ao sub-repticiamente induzir que era eu que deveria ir tentando e não o médico que me deveria ligar.
Note-se que isto se passou uns milhares de euros depois. O Hospital é privado e dos melhores e mais conceituados da nossa praça e entre seguro e comparticipação do doente, uma intervenção em ambulatório de meia hora custou alguns milhares.
Andou muitíssimo bem o médico que ligou prontamente, foi cordial e amável. Andou muitíssimo mal o Hospital pela mão da criatura do telefone... E andou mal a minha mãe que por qualquer ninharia se atira, como o gato ao bofe, aos hospitais públicos, onde, pelo menos directamente quase não paga, manifestando, ao contrário, uma complacência quase absoluta com os hospitais privados onde paga muito e bem...

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1 de dezembro de 2008

Porque non te callas?

Na entrevista ao programa Discurso Directo da TSF, publicada ontem no Diário de Notícias, a Procuradora Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), afirmou, a propósito do caso BPN, que «um inquérito parlamentar é negativo», sublinhando que «gostaria que a opinião pública dissesse se prefere saber essas, digamos, fofoquices, entre aspas, e peço desculpa pela palavra, ou se gostaria de ver a justiça feita e os criminosos condenados e os inocentes inocentados». Pessoalmente e fazendo parte da opinião pública, eu gostaria que a Justiça me desse uma resposta em tempo útil e com total transparência. Como nunca dá, que venha a comissão de inquérito que pelo menos é pública e é célere. E mesmo que a Justiça desse essa resposta, eu prefiro, enquanto opinião pública, sempre a transparência e o escrutínio públicos de uma comissão parlamentar a processos obscuros investigados anos a fio, onde se torram milhões, e que no final apenas resultam em acordãos pastosos e palavrosos, quase sempre inconsequentes. Como opinião pública, eu gostaria que Cândida Almeida investigasse o que pudesse e soubesse e que não desse entrevistas. Ainda como opinião pública, eu gostaria de ouvir as posições do MP ditas por porta-vozes que me evitassem o desprazer de ter de ouvir um representante do terceiro poder, não sufragado, referir-se deste modo aos dois primeiros. Se um deputado ou um ministro se referisse aos tribunais deste modo desrespeitoso, eu gostaria de ver o que diriam as corporações judiciais e a de Cândida Almeida em particular?! Anote-se ainda que – palavras do jornalista na peça - parece que esta senhora foi a primeira mulher magistrada do MP e tem um vasto currículo…

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