30 de agosto de 2007

Corn flakes com BE

O homem não larga o osso. Apre! Desde há vários dias, a edição da noite do jornal da SIC Notícias com Mário Crespo (MC) pisa e repisa a questão da destruição do milheiral transgénico da Herdade da Lameira. Entrevistou Francisco Louçã, o Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, o responsável do Movimento Verde Eufémia, Gualter Baptista. A cruzada do MC é conseguir filiar o líder daquele movimento ao Bloco de Esquerda, apertar com Louçã sobre isso e sobre uma ou outra afirmação mais dúbia sobre a condenação daquela acção. Hoje caiu na patetice noticiosa de apresentar como notícia um site qualquer que divulgava uma iniciativa qualquer do BE onde o tal Gualter ia falar e em que afinal foi substituído. A acção dos manifestantes destruindo massivamente parte significativa do milheiral, de caras tapadas, com agressões ao agricultor a pontapé é claramente condenável. Mas confesso que estou farto desta espécie de caça às bruxas noticiosa. O homem ensandeceu ou quê? Tolero-lhe os tiques de intelectual de pacotilha – anteontem foram os fora, hoje a ratio legis e todos os dias há um diferente - a verborreia e até algum unto, que creio mais aparente do que real, mas está-me a agoniar esta cruzada. Até porque gostava de poder continuar a comer os meus corn flakes descansado e de saber se eles são feitos com transgénicos ou não. E gostava que houvesse legislação a obrigar que nas embalagens constasse a indicação de transgénico ou não. E de saber porque é que, ao contrário, existe legislação para regulamentar as «zonas livres de variedades geneticamente modificadas». E de assistir a uma boa refrega televisiva entre quem é favor e quem é contra. E conhecer a respectiva artilharia científica. E, claro, estou-me nas tintas para o facto de Gualter Baptista ser ou não do BE…

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29 de agosto de 2007

Colmeadinho

A Língua Portuguesa não é, sabemo-lo, sintética. E quanto tenta sê-lo, esse vestido serve-lhe mal. O poste anterior ilustra-o bem. O Praia Acessível não serve e então caímos no Praia com acessos para pessoas com mobilidade reduzida que é uma expressão enrolada e de uma pepineira inominável, que nunca deveria ter saído dos livros técnicos de onde proveio. Mas o que é certo, também, é que desprezamos, por puro snobismo linguístico, os nossos regionalismos. Alguns deles verdadeiras pérolas de economia e de expressividade. Tudo em prol de uma língua formatada, uniformizada. Igual no Minho e no Algarve. Pois na mesma terra onde encontrei a Praia Acessível do Projecto de Apoio a Pessoas com Mobilidade Reduzida, surpreendi estas duas frases, para as quais não encontro melhores equivalentes no Português formatado. Sobre uma casa à venda, ouvi este diálogo:
«- Então o fulano tem a casa à venda?!
- Sim, tem!
- E vai vendê-la?!
- Se lhe derem dinheiro acrescentado
Outra:
«- A praia hoje está colmeadinha».
Ora para a expressão dinheiro acrescentado não encontro, pura e simplesmente, uma equivalente mais sintética e precisa para o que se quer dizer. Para exprimir o mesmo conceito, teríamos de: ou usar meia dúzia de palavras, ou então usar expressões de menor riqueza expressiva. Qualquer coisa como: «Se lhe derem mais dinheiro do que a casa vale» ou «Se lhe pagarem bem». Uma e outra claramente piores. Ainda por cima esta expressão até tem equivalentes no incensado economês como o valor acrescentado, por exemplo.
Quanto ao colmeadinha, acho-a uma beleza. No Português formatado, o melhor que arranjamos é o «A praia está apinhada». Mas a expressão é mais pobre e é estática. Na verdade, as pessoas podem estar na praia como os pinhões estão na pinha, muito juntos, daí o apinhado. Mas ela não chega sequer aos calcanhares da vivacidade e do movimento transmitidos pelo colmeadinho, onde quase conseguimos visualizar o movimento das abelhas em volta da colmeia. E
naquele momento olhei para a praia, pensei na colmeia e ganhei o dia.
N.B. - E a foto, fomos buscá-la aqui.

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28 de agosto de 2007

Praia acessível

As palavras estão vivas e vão fazendo o seu caminho. Umas definham e extinguem-se, passando apenas a engrossar o léxico cumulativo dos dicionários. Outras ganham novos significados. Nunca deixo de me espantar com a capacidade de regeneração e de renovação da língua. E as motivações para as evoluções podem ser as mais diversas, as mais prosaicas. Até o simples facto de o que se quer dizer não caber numa placa. Num dos acessos a uma das praias que frequentei este ano, encontrei a seguinte placa: «Praia acessível». É claro que um dos logótipos anexos me ajudou a esclarecer o sentido. Só com as palavras, porém, não chegava lá. Tratar-se-ia do nome da praia?! De um caminho até à praia? Poder-se-ia até pensar, se o acesso às praias fosse pago, que se trataria de uma praia com preços módicos! Enfim, o que nunca pensaria, sem o boneco, era que se tratava de uma praia com acessos para deficientes motores. Mas era. Não sei se a palavra acessível se terá renovado ao ponto de ganhar por si este novo significado?! Creio que não! O que aconteceu ali foi, pura e simplesmente, falta de imaginação para encontrar melhor expressão e uma tentativa de condensar, numa expressão curta e susceptível de caber numa placa, a indicação: praia com acessos para deficientes motores. Mas mais valia ter optado por esta ou qualquer outra solução. É preferível palavras a mais mas esclarecedoras do sentido, a palavras a menos com perda do sentido. Pode também ter acontecido que, em nome do politicamente correcto, se tenha procurado evitar a palavra deficiente. Ou porque também caibam dentro deste acessível aqueles que têm limitações de mobilidade, permanentes ou temporárias. Aliás, creio que também vi, mais adiante, o nome deste projecto: Projecto de apoio a pessoas com mobilidade condicionada ou designação similar. A língua também tem esta capacidade de opacidade. Sobre este acessível, resta-nos esperar para ver se a moda pega...
Foto - Pólis&etc.

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23 de agosto de 2007

Livros de praia

De férias, sobra-me o tempo para os jornais, sobretudo os diários. O que é excelente. É algo que gosto de fazer. O tempo que me sobra a mim parece faltar a outros que de férias cortam com os jornais. Parece que é um período em que as vendas de jornais decrescem, por falta de notícias e por desinteresse dos leitores. Para compensar, alguns entram em campanhas: as mais desvairadas. As ofertas de livros são clássicas. Desta vez, foi o Diário de Notícias que, em parceria com a Europa-América, lançou uma colecção de 24 livros de bolso. A colecção não tem qualquer critério agregador. É apenas um conjunto de livros de pequeno formato, onde há de tudo, de Dante a Ellery Queen. Mas isso é o menos. Ao menos que as edições tivessem um mínimo de qualidade. Aborrecem-me as más edições, descuidadas na paginação, nas capas, na tradução, na revisão e em todos os aspectos da chamada obra de livro. Só um exemplo, dos que li. O livrinho de Balzac, que ilustra a campanha publicitária, uma pequena novela de nome O Último Adeus, comete a proeza de numas quantas páginas referir por várias vezes a palavra água em vez de égua, além de grafar como goluseima a palavra guloseima. É o tipo de coisa com a qual se tropeça na leitura e fica mal. Caramba! Qualquer revisão apressada dava conta da primeira anomalia. E a activação do corrector do programa de paginação evitava a segunda. Nem que para isso fosse necessário cobrar mais uns cêntimos pelo jornal...
Foto - Pólis&etc.

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19 de agosto de 2007

São baixos, são sim senhor

O, agora já ex, Director-Geral dos Impostos, deu uma entrevista ao Expresso. (n.º 1814, de 4 de Agosto). Considero-a uma boa entrevista. Respostas substantivas e curtas. Ali não há retórica. Não há ponta de criatividade no que disse, nem uma única metáfora. Nada. É coisa despojada. O homem não inventa. A parte mais polémica, e que fez as parangonas do Expresso, diz respeito ao facto de Paulo Macedo considerar que o vencimento do Presidente da República (PR) e do Primeiro-Ministro (PM) são baixos. E são-no, de facto. Para a responsabilidade e para os deveres dos respectivos cargos são efectivamente baixos. Paulo Macedo refere mesmo que qualquer director de sucursal bancária e que qualquer director de marketing ganha mais do que o PR. O que é verdade e todos o sabemos. E não só ao nível de PR e de PM. Isso é válido também para deputados, directores-gerais, autarcas, etc. Mas ninguém – nenhum político – se atreve a tocar nisto. E assim surgem esquemas, de toda a sorte: acumulações de cargos mais ou menos fantasmas, acumulações de reformas, pagamentos com senhas de presença, etc., etc. E assim os titulares de cargos políticos apoucam-se. Acham que contornam e resolvem as coisas, mas não resolvem nada. É gato escondido com rabo de fora. E os jornais vão caçando rabos de fora e mais rabos de fora. E os políticos saem mal disto tudo. Percebem, mas assobiam para o lado. Pelo contrário, o poder económico faz seguramente muito pior, mas com muito mais classe. Veja-se a subtileza com que é gerida a fratricida guerra no BCP. Aquilo é uma guerra de senhores. E, assim, para a maioria, os políticos continuam a ser uns mentirosos e uns aldrabões, os banqueiros e outros empresários, uns senhores, quando muito apelidam-nos de exploradores. Sinceramente, acho que o vencimento dos diversos titulares de cargos políticos deveria ter um tecto mínimo, que até podia ser o actual, mas com a particularidade de se poder optar pelo vencimento do lugar de origem. E assim, talvez pudessemos ter os melhores na política. Pelo menos não teríamos, já não digo os piores, mas pelo menos gente vulgar. Pelo menos assegurávamos que não era por causa do dinheiro que alguém não serviria o país em funções públicas.
Foto - Pólis&etc.

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16 de agosto de 2007

A caça às bruxas

No afã de realizar dinheiro com tudo e mais um par de botas, agora temos as multas por condução sob o efeito de drogas. O Ministro da Administração Interna (MAI), Rui Pereira, com aquele ar professoral disse aos jornalistas e demais povoléu nas televisões da Pólis «sob o efeito de droga». O que é bem pior. O homem é jurista. Não desconhece o valor das palavras e sabe que aquilo, dito assim, tem outro impacto. Achei logo aquilo um pequeno truque, demagógico, de fraco ilusionista. É apenas um pequeníssimo episódio, é certo. Mas somei-o ao facto de o ver no dia a seguir sorridentemente agarrado a uma menina a entregar um prémio na Volta a Portugal em Bicicleta e percebi que podemos ter ali pau para toda a colher. E incomoda-me ver alguém, de quem até tinha boa impressão, prestar-se a representar com zelo estes papéis. Bem sei que é muito pouco para fazer um juízo negativo, mas confesso que já estou com um pé atrás. Aguardemos o resto do desempenho do novo MAI. À droga e ao abraço à menina da Volta, somou-se, em parcela gorda, a mais inominável das demagogias. É que – esta não a ouvi ao homem, mas sim a um qualquer responsável - aquele teste seria apenas efectuado aos automobilistas que apresentassem sinais de poder estar sob o efeito de drogas. Mas nesse mesmo dia, houve uma noite de caça às bruxas para testar os novos aparelhos! Ora o problema destes testes, generalizados ou pontuais, não são os estupefacientes - claro está - mas sim os psicotrópicos, do grupo das benzodiazepinas, que se prescrevem e se tomam entre nós – e mal, mas isso agora não vem ao caso – como pãezinhos quentes. Se aquilo for soma e segue, como parece, e aplicado indiscriminadamente a todos os condutores, e o teste for fiável e rigoroso, vamos ter, por exemplo, a malta que toma uma pastilha para dormir, e atento o facto de a substância permanecer no sangue durante 24 horas, a ser multada à tripa forra. Se não tomar, não dorme e pega no volante ensonado. Se tomar, pega no volante sem sono, mas como aquele tipo de comprimidos pode exactamente causar sonolência... Mais uma regulamentação que é em si mesma boa, a ser cretinamente implementada por esta sorte de validos que quer mostrar serviço a todo o vapor. Cá por mim e com esta aplicação, é mais um esbulho legal, na linha dos radares de Lisboa e da tributação das doações dos 500 euros entre pais e filhos, que afinal acabou sensatamente por não avançar.

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A aventesma do Marquês

Sou um utilizador frequente do denominado Túnel do Marquês, em Lisboa. Atravessei-o uma vez mais há poucas horas. Estou até em crer que talvez lá tenha sido multado no final de Julho. Isto a julgar por um clarão, indicador de flash, na minha retaguarda. Creio que circularia a pouco mais de 50 Km por hora. Veremos! Será a minha primeira multa de trânsito em 20 anos de condução e após cerca de 200 000 mil quilómetros feitos em dois automóveis. Exceptuo ainda umas centenas feitos durante um ano em carro alheio. Se for multado, em princípio deixarei seguir a multa para a via contenciosa. Tudo tem um limite e aquele limite de velocidade em certas áreas daquele túnel é cretino. É uma despudorada caça à multa. A parte mais penosa é a descida, portanto no sentido Amoreiras-Marquês de Pombal, a partir da indicação de 9% de inclinação. Hoje passei a fazer aquilo em terceira, pé no travão e olho no conta-quilómetros. Deixei de me preocupar com a condução ou com os outros veículos e passei a concentrar toda a minha atenção no ponteiro do conta-quilómetros. Mas gostava imenso de saber se a aventesma que propôs aquele limite para aquele túnel, alguma vez o experimentou.

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E assim nos desenrascamos (Fotos da Pólis V)

«RECLAMES NÃO POR FAVOR»

«PORIBIDO PUBLICIDADE» (sic)
Fotos - Pólis&etc.

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