24 de novembro de 2007

Independência absoluta, até quando?!

Há umas semanas, o Ministro das Finanças mandou às malvas uma decisão da Caixa Geral de Aposentações (CGA) relativa à situação de uma funcionária administrativa de uma junta de freguesia obrigada a ir trabalhar sem se poder mexer. As imagens televisivas impuseram-se. Viu-se a própria, em casa, no trabalho, ouviram-se os pais, os vizinhos, os colegas. Aquilo nem sequer era um problema psiquiátrico que suscitasse dúvidas, era um problema fisiológico comprovado. O absurdo saltava aos olhos. E chocava-nos. O Ministro mandou a CGA reavaliar o processo. Até lá, a funcionária fica em casa. Ouvi mesmo o Ministro referir já ter dado ordens para que o vencimento continuasse a ser processado. Aplaudi. Alguém tem de ter o poder de anular as decisões. O absurdo tem de ser corrigido.
Esta semana, a Justiça da Pólis mandou teimosamente entregar Esmeralda ao pai biológico. A lei até fala no superior interesse da criança. Os relatórios técnicos são unânimes em reconhecer os perigos para a criança da mudança de ambiente. A Justiça, soberana e estúpida, decidiu sem ter isso em conta. Ao contrário da decisão da CGA, ninguém, além da própria Justiça, pode corrigir o absurdo. Mas alguém tem de ter esse poder.
Esta semana, ainda, a Justiça da Pólis chancelou o despedimento de um cozinheiro portador do VIH. Os relatórios técnicos foram unânimes em referir que não existia perigo para a saúde pública, mas a Justiça decidiu de forma soberana, estúpida, preconceituosa. Ao contrário da decisão da CGA, ninguém, além da própria Justiça, pode corrigir o absurdo. Mas alguém tem de ter esse poder.
Creio poder afirmar que a maioria de nós aplaudiria se alguém: a Assembleia da República, ou até mesmo o Presidente da República, através do Conselho de Estado, por exemplo, já não digo o Governo, que talvez seja assisado deixar de fora, pudesse chamar a si estas duas decisões judiciais e anulá-las. Seria uma decisão pública, com os fundamentos publicados em Diário da República. O escrutínio acerca da justeza da decisão caberia a nós, povo, em nome do qual os juízes administram a Justiça.

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17 de novembro de 2007

Mais excelência?

O meu cartão multibanco (MB) de combate, aquele que é usado no dia a dia para as pequenas despesas, deixou de funcionar na rede do meu banco e nalguns terminais de lojas. Funcionava perfeitamente nas máquinas da rede SIBS. Fui a um balcão que me fica em caminho para resolver o problema. Para mal dos meus pecados, fui atendido por uma funcionária incompetente. Estava lá também uma colega, mas infelizmente tocou-me mais uma vez em sorte aquela que já conheço de outras andanças. E não gosto. É uma criatura de meia-idade. Terá talvez uns 55 anos. Pequena e anafada. Rosto redondo, algo vermelhusco, cabelo mal tratado e mal penteado. Uns óculos de meia-cana com aquele horroroso penduricalho que se usa ao pescoço para que não caiam completavam o quadro. É uma pessoa formalmente atenciosa, formalmente educada, e mesmo com alguns ademanes e maneirismos de uma artificial e antiquada afectação. Esses são, porém, os seus defeitos mais benignos. O pior é que é ineficaz. E tem um defeito maior, para mim capital, é estupidamente opiniosa. Fala do que não sabe e não tem ponta de sentido crítico. Além disso, defende o banco, mesmo as maiores cretinices, com a irracionalidade do cão de fila. É bem intencionada mas é burra. E não sabe sequer o que é um cliente.
Exponho a questão e começa o folclore. A criatura detém-se largos segundos a observar o cartão, à contraluz, à luz, vira e revira, com um olhar meio bovino mas a dar-se ares de perito forense em bocados de plástico. E remata em jeito de diagnóstico absoluto da perícia: «a banda está riscada». Vislumbrei o escopo último do comentário. A criatura estava a tentar imputar-me as culpas pela anomalia do cartão. Quem sabe até se eventualmente mesmo a tentar que eu arcasse com os custos. Olho para o cartão para, enfim, tentar perceber se a criatura tinha razão. E não tinha. Digo-lhe que não, que não vejo nada. De raça teimosa, a dita insiste: «Então não vê, nesta ponta?». E eu: «Não vejo absolutamente nada de diferente entre uma e a outra extremidade da banda!». Com alguma paciência argumentativa, digo à criatura que o cartão tem poucas semanas e umas escassas - vá lá - dezenas de movimentos. Teimosíssima, a criatura não se demove e volta a carga de forma quadrúpede. Que isso não importava, disse. Que o problema não estava em mim mas nos estabelecimentos comerciais que têm as máquinas MB e não as mandam limpar, porque a manutenção é cara e não sei que mais. Decidi, então, expor ao seu olhar forense os vários cartões que trago na carteira, todos eles com mais riscos na banda magnética do que aquele que devolvi. Um deles mesmo, de acesso a uma garagem, de aspecto surrado resultante dos maus tratos de 7 anos ininterruptos de carteira e que ainda hoje funciona. A criatura decidiu não insistir mais, passando à fase da resolução do problema. Exactamente aquela por onde devia ter começado. Sacou de um impresso e pediu-me que o preenchesse. E no final, lá estava a sacrossanta frase: «autorizo o débito na conta da importância referente à substituição do cartão» ou paleio equivalente. Não é pela importância, que é despicienda, mas sim pela atitude da criatura e do banco que tudo aproveita para esbulhar. Digo-lhe então com ar suficientemente peremptório: «Olhe que eu não vou pagar este cartão!». E ela: «Não paga nada». E eu: «Não é isso que diz na frase final onde eu depois vou assinar». E ela: «Mas tem um quadradinho para optar 'Sim' ou 'Não'». E eu: «Não tem absolutamente nada». Olhando para o impresso, faz um trejeito com o olhar como quem diz: «Burros! Que não puseram o quadradinho!». E nunca: «Olha! Não reparei que não tinha o quadradinho!». E diz-me: «Então coloque ‘Não autorizo’ na frase». E lá foi aquilo com um «Não» manuscrito. Ou seja: «NÃO autorizo o débito na conta da importância referente à substituição do cartão»?!?!?! Fantástico! Podia ter-me aconselhado simplesmente a riscar a frase, mas nem sequer isso lhe ditou a inteligência.
E é esta a excelência que nos tentam impingir…

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10 de novembro de 2007

Limpezas

Li, não sem algum espanto, no Grande Educador do Povo da Pólis (também conhecido por Expresso) de hoje que nas facturas a pagar pelo Estado para 2008, os serviços de limpeza na Administração Pública Central já custam 58,8 milhões de euros, praticamente o mesmo que, por exemplo, as viagens e as deslocações (60,6) e um pouco menos do que o material de escritório (76,2)...
Gostaria imenso que os putativos defensores dos outsorcings, recentemente rebaptizados de externalizações, me dissessem quanto custaria esse mesmo serviço prestado pelas chamadas serventes que antigamente existiam nos quadros do Estado e que, aliás, ganhavam miseravelmente...
E ainda se a qualidade melhorou... E, já agora, que tipo de controle têm os serviços do Estado nessas hordas de gente que lhes limpam o chão, as secretárias e os vidros dos seus edifícios fora de horas, acedendo a todo o tipo de informação neles existentes...
Estou, é claro, de espírito totalmente aberto nisto. E sem qualquer programa ideológico pró-Estado... Se for mais barato e melhor que se mantenha, mas já agora que conhecessemos os números... Talvez fosse interessante, a bem de uma real comparabilidade e efectiva concorrência, que metade dos organismos tivesse um regime e a outra metade outro...
É claro que para eliminar isto, esses putativos defensores dos outsourcings, recentemente rebaptizados de externalizações, criaram a figura do core business, ou área de negócio, a qual curiosamente não vejo aplicada com tanto zelo em muitas empresas...

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3 de novembro de 2007

Onde está a excelência?

Estou cansado de levar com a ideia de que o Privado é bom e o Público é mau. Mais: que o Privado é de excelência e o Público é mau. Olho, perscruto, e não encontro a tal excelência. Devo ter azar. Faço natação num organismo público. As mentes que governam a piscina decidiram este ano recorrer ao outsourcing. Ou, como agora também se diz, à externalização. Já entregue a exploração ao sector privado, pedi um horário. Deram-me uma coisa mal amanhada a que chamaram horário. Tive, desde logo, dificuldade em consultar e interpretar o dito horário. Questionada, a empresa teve as mesmas dificuldades. O problema podia ser meu, mas não era. Além das insuficiências de concepção, havia um horário incorrecto. Assinalei o facto há semanas. Mas lá continua hoje, ostentando o erro. A fotocópia era ranhosa e como aquilo foi feito a cores e tem sombreados, a fotocópia a preto e branco é um amontoado informe e ininteligível. No momento de pagar, constatei que não tinham Multibanco. Pois, sim senhor, que eu tinha razão, mas que ainda não estava instalado. Passo cheque. Resultado da arteroesclerose precoce ou da falta de hábito – penso que ainda não do analfabetismo funcional – escrevo o montante na linha do «à ordem» e a entidade na linha da «quantia». Não me apercebi, quem recebeu também não. O cheque foi para o banco e voltou para trás. Falamos de um cheque de pouco mais de 100 euros. Será que o banco não tem o meu número de telefone para confirmar se passei ou não aquele cheque?! Passei um novo. E ainda assisti, pasmado, ao rapaz da tal empresa passar-me um recibo manual, tendo um PC e uma impressora à frente. Ah! Mas utilizou a calculadora do PC para fazer as contas...
Onde está a excelência da empresa que gere a piscina e já agora a excelência do meu banco. Dão-se alvíssaras.

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