Na última semana, vários jornais referiram, com base num estudo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa em parceria com a AIP - Associação Industrial Portuguesa, que «trabalhamos 137 dias por ano para pagar impostos». Quem lê, pensa logo que o produto desses 137 dias de trabalho vai directamente para pagar os ordenados dos funcionários públicos, sobretudo dos que se vêem nos balcões das «repartições». Os comentaristas pegam nisso e «à boleia» escrevem e escrevem. Vi de tudo. Detenho-me, no entanto, numa nota de Nuno Rogeiro, no Metro de sexta-feira passada, que reforça isto com uma «lapalissada»: diz que tal corresponde a 1/3 da vida activa e acrescenta, em jeito de conclusão: «não me parece que o Estado nos dê 137 dias da nossa vida em qualidade de serviços». A mim não me parece, nem deixa de me parecer. Simplesmente, porque não há, e dificilmente pode haver, estudos globais que o confirmem. O que me preocupa aqui é a ideia subjacente: «1/3 do ano a trabalhar para o Estado = 1/3 a trabalhar para pagar os ordenados dos funcionários públicos».
Vejamos então para que servem os impostos. É bom que pensemos que o Estado nos acompanha desde que nascemos até que morremos e está sempre presente, sobretudo quando as «coisas» correm mal. É o preço de não vivermos na selva, na anarquia, na desordem, no caos. Acompanhemos um dia na vida de Nuno Rogeiro. Levanta-se e abre o interruptor: lá está o Estado que lhe fornece a electricidade; vai à casa-de-banho: lá está o Estado que lhe fornece a água. E para onde vai a água? Para as estações de tratamento do Estado ou para o mar pelas condutas que o Estado construiu… E mal mete o pé na rua, caminha pelas ruas que o Estado pavimentou, se vai de carro, circula nas estradas que o Estado construiu, se usa o Metropolitano, e já o vi por lá, esse transporte é custeado pelo Estado… Se vai pôr o filho na escola, mesmo privada, ele sabe que os programas foram concebidos pelo Estado e que se algo correr mal com o filho, há institutos públicos onde pode recorrer… O mesmo se passa quando vai tomar a bica e comer o salgado, sabe que há quem fiscalize e zele pela qualidade do que está a comer, e, se algo estiver mal, pode reclamar e recorrer aos institutos de regulação do Estado, o mesmo se passando com qualquer transacção com privados ou com «públicos» que faça ao longo do dia. E se, durante o dia, alguém, por exemplo, o insultar, pode-se queixar ao Estado. Ao longo do dia, recorre por certo, de um ou de outro modo, muitas vezes, directa ou indirectamente, ao Estado. E quando à noite chega a casa e dorme, sabe que o pode fazer em segurança porque há a polícia do Estado que zela por ele e pelos seus bens. E quando estiver doente ou se reformar, lá está também o Estado… E quando um dia, que se quer longínquo, Nuno Rogeiro «bater a bota» será cremado ou sepultado num cemitério do Estado… Não sei se isto merece 137 dias de impostos pagos, mas é bom que se pense nisto quando atiram estes números para o ar…