30 de junho de 2007

Gente fora de prazo

Ontem acordei com uma notícia na TSF sobre um personagem da Pólis, de seu nome Correia de Campos. Governa a Saúde. Já se conheciam vários episódios da sua autoria. Num dos quais, bastante glosado pela imprensa da Pólis, o personagem chegou mesmo a partir uma cadeira num hospital, com o fito de mostrar que o material estava velho, ou coisa que o valha. Há outros! O personagem é truculento e presta-se por isso a estes episódios. Escudado pelo cargo e por um governo de maioria absoluta, ei-lo impante e em roda livre. Porém, nenhum desses episódios mais ou menos burlescos foi, aos meus olhos, tão chocante como o de ontem. Numa conferência na Ordem dos Economistas, e confrontado com um farmacêutico que lhe terá apresentado um saco de medicamentos fora de prazo, o personagem terá dito. Cito de memória: «esses medicamentos devia era dá-los aos pobres». O personagem depois desmentiu. Que não sabia que os medicamentos estavam fora de prazo. Blá, blá, blá, blá. E julgo que sim, que realmente o personagem não saberia que os medicamentos estariam fora de prazo, ou não teria proferido semelhante dislate. Só mesmo um demente o faria. O que a mim me choca aqui é a forma. É a frase, é a palavra «pobres», referida assim. É a expressão «devia dá-los aos pobres», é a atitude e o universo mental que está por detrás dela. É chocante e revoltante. E não pude deixar de pensar que ela teve origem num governante do Partido Socialista, num governante que governa alegadamente em nome da chamada esquerda. Não quer dizer que fosse mais aceitável num de outro partido da chamada direita! Mas aqui, apesar de tudo – e admito o preconceito -, chocou-me mais! E dei comigo a pensar que esta frase poderia perfeitamente ter sido dita por outro governante, sem escândalo, há 40 anos. E se calhar, mesmo nessa altura, não seria dita assim...

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29 de junho de 2007

Obsceno

Acontece que há uns dias tive de ir cumprir uma obrigação familiar a um dos mais conhecidos cemitérios da Pólis, o do Alto de São João, em Lisboa. Segundo dizem, um dos mais belos e um dos mais ricos em arquitectura funerária da Europa.
Acontece também que começámos, em matéria de culto dos mortos, a importar, nos últimos anos, algumas modas de outras paragens. Uma delas ditou o fim dos pequenos túmulos geralmente em mármore, construídos sobre a campa, cada um com a sua decoração, ao gosto e de acordo com as posses de cada um. Agora a moda é ou jazigo ou campa rasa com lápide normalizada. Não sei se concorde se discorde, mas é assim. Nas campas rasas, é apenas concedido que os familiares lá ponham uma lápide e o resto é coberto com relva. A importação parece-me talvez americana. A fazer lembrar Arlington. Desconheço o que se passa por essa Europa fora em matéria de urbanismo funerário. Talvez ordene melhor a paisagem dos cemitérios. Digo talvez porque tenho sérias dúvidas, sobretudo atendendo à orografia de alguns dos nossos cemitérios. Se isto já estivesse em vigor, o Cemitério do Alto de São João não seria o que é! Concordando ou discordando, porém, é o que temos.
Infelizmente, importamos as modas mas depois não temos ou os meios ou o brio necessários para as pôr em prática. Penso até que é mais de brio que se trata.
Como vêem pela fotografia, é este o aspecto que apresenta um dos talhões principais (logo à entrada, à direita) do Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Além do aspecto que está à vista, ainda ostenta com garbo a tabuleta (bom e adequado termo): «É proibido colocar jarras ou outros objectos em cima da relva.» Como disse?! Da relva?! Mas que relva?! Aquele matagal silvestre com papoilas e ervas daninhas. Só consigo apodar de vergonhoso e abjecto este espectáculo. Garanto que se lá estivesse alguém que me fosse querido, a situação não passava do dia em que a visse. Pelo menos a parte que me dizia respeito. Alguém haveria de limpar aquele espaço. Na ausência de alguém, eu próprio o faria. E acto contínuo, reclamaria junto da direcção do cemitério, da Câmara Municipal de Lisboa, contactaria os meios de comunicação social... Enfim, moveria o céu e a terra. Pelo menos os poderes da terra!
Ora quem não cuida da sua memória e os mortos também são a nossa memória, não se respeita. Para além do anedótico que a situação representa. Em situação pré-eleitoral, os putativos candidatos à maior autarquia da Pólis podiam, quiçá, tomar tomar boa nota disto. Por mim, acho indigno, vergonhoso, obsceno.
Foto - Pólis&etc.

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26 de junho de 2007

Fotos da Pólis II

Lisboa, Rua Ferreira Borges, foto Pólis&etc.
Não fora o sinal de trânsito e o café e poderíamos perfeitamente estar em meados do século passado...

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21 de junho de 2007

Dizem que amor de estudante…

A imprensa da Pólis é, por estes dias, uma verdadeira caixinha de surpresas. De surpresas, de tesourinhos deprimentes, de enriquecimento lexical! Hoje, quando folheava o circunspecto Diário de Notícias dou de caras com uma página dupla dedicada ao Salão Erótico de Lisboa. Espero que tenham percebido o eufemismo! Na verdade, assim que vi aquele título atirei-me literalmente às páginas centrais. Não direi sobre o que li e vi o mesmo que em tempos disse o Senhor Arcebispo de Braga acerca do Império dos Sentidos, mas pelo menos sempre aprendi uma palavrita nova, a palavra tuppersex. É isso mesmo que estão a pensar! Antigamente as senhoras reuniam-se para comprar caixas de plástico. Hoje mantém-se a matéria-prima mas muda o tipo de caixas. Conscienciosamente, o texto termina com várias informações úteis acerca do Salão Erótico, preço dos bilhetes e descontos. Informo já que são €20. E fico a saber que há desconto para estudantes?!?!?!? Faz sentido! Julgo é que as firmas farmacêuticas produtoras do Viagra, do Cialis e etc. bem poderiam financiar o desconto para a terceira idade. Não seria um investimento reprodutivo ou com futuro, mas pelo menos mostravam alguma responsabilidade social!

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19 de junho de 2007

Tesourinho deprimente: a propósito da boa imprensa

O nosso Correio da Manhã soma e segue. Uns dias depois da notícia Deserto de Lino dá vaia a Sócrates, mas agora pela mão de um outro jornalista, Rui Arala Chaves, em conjunto com A.M.S. – presumo que seja outro jornalista, mas bem podia ser uma empresa ou uma organização -, e a Lusa, Sócrates já foi vaiado. Isto por causa do Hospital de Abrantes. Não foi o ministro da pasta, como antes, foi mesmo o Primeiro-Ministro (PM). O título da notícia reza assim: Saúde: População contra fecho da unidade. Sócrates enfrenta manif em Abrantes. Primeiro gosto do «manif.»! É que gosto mesmo! A notícia começa: «Algumas centenas de populares aproveitaram ontem a visita do primeiro-ministro José Sócrates a Abrantes para o vaiar pelo eventual fecho do hospital local. Medida logo negada pelo próprio governante.» Ora, como se vê, os manifestantes «aproveitaram» a visita para o vaiar. Podiam estar em casa, a ver a bola, mas como ia lá o PM resolveram vaiá-lo! Está certo! E o que é que o PM lá foi fazer? O lead da notícia, a três mãos - vale o que se diz para a salada, que só deve ser mexida por uma mão -, até responde aos célebres cinco W do jornalismo (who, what, when, where, why and how). O problema é o modo como o faz. Vejamos como foi: «O primeiro-ministro deslocou-se ontem a Abrantes para presidir à inauguração do maior açude insuflável no País, que irá permitir um espelho de água adequado a desportos e zonas balneares fluviais. Apesar das potencialidades da nova infra-estrutura, até no que toca a fins turísticos, os manifestantes não se condoeram, vestiram roupas a dizer “Abrantes sem hospital não” e contestaram o fecho da unidade.» Descontando diversas outras minudências, podemos perceber que o ideal era os manifestantes terem-se «condoído» de José Sócrates. Como não o fizeram, toma lá com a «manif». E a notícia lá continua o seu caminho. E vai-nos informando que «mesmo confrontado com insultos, como “mentiroso”, e alguns apertões que a dado momento (como documentam algumas fotos) fizeram o primeiro-ministro perder a habitual compostura, Sócrates classificou a abordagem como “cordial e civilizada” e garantiu que “o Governo não tem qualquer intenção de alterar o acordo entre os hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas”.» Esta é de morte! Primeiro ficamos esclarecidos que o PM é habitualmente um «homem com compostura»!?! E depois, que apesar de ser apodado de «mentiroso» e dos «apertões» que levou - esta dos «apertões» também é boa -, o PM achou isto «civilizado e cordato». Cool! Mas sobre isto, o PM ainda disse mais. Disse que «”aos políticos cabe reagir com fair-play e ouvir com um sorriso as críticas, essenciais à democracia”». Mas, «manifestou-se, porém, indisponível para rever decisões tomadas em face a pressões populares. “Era o que faltava que um Governo presidido por mim fosse alterar o quer que seja”, asseverou». Era o que faltava, mesmo! Estamos, pois, feitos com a Ota! Já nem vale a pena mais estudos! Para rematar, «soubemos que fonte do gabinete de Sócrates confirmou que “não existe a intenção de retirar valências ao Hospital de Abrantes”», classificando o protesto como “um equívoco”». Esta das «valências» e do «equívoco» já é outro nível de linguagem. A malta do gabinete do PM sabe o que anda a fazer. Guardei para o fim a cereja: «Noutra polémica ligada à saúde que tem abalado o Governo, ontem o INEM comunicou que a mulher falecida terça-feira por colapso cardíaco quando era transportada de Vendas Novas para Évora “já estava morta em casa”. Mas, como o CM então noticiou, o comandante dos bombeiros, José Verdelho, disse ter sido “a lutar pela vida” que ela fez o percurso de ambulância. Confirmado ficou que chegou ao Hospital de Évora “já cadáver”, 40 minutos após entrar na ambulância. Quando o estado de morte é evidente chama-se o delegado de saúde e não uma ambulância.»
Vamos lá, então reler, expurgada do que é acessório, a primeira frase: «[…] o INEM comunicou que a mulher falecida […] quando era transportada […] já estava morta em casa». Como diz o António Feio nas croniquetas da TSF: Cool! Very cool! Cena marada, man! Ah, ganda jornalismo da Pólis.

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12 de junho de 2007

Ainda e sempre a boa imprensa: o oráculo

Recebo todos os dias a versão digital de O Correio da Manhã. Hoje chegou-me como notícia de primeira página: 10 de Junho: Comemorações em Setúbal. Deserto de Lino dá vaia a Sócrates. Li e reli a notícia. Complementei com os artigos relacionados. E não consegui perceber o que levou o jornalista, no caso João Saramago, a distinguir que os assobios da população ao Primeiro-Ministro eram afinal dirigidos ao ministro Mário Lino que na altura nem sequer estava presente. Diz ele, «a falta de visibilidade da tribuna levou mesmo muitos populares a assobiarem ao chefe do Governo julgando que o ministro estava presente». Logo a seguir acrescenta, «só duas horas depois o ministro das Obras Públicas chegou a Setúbal. Era meio-dia e 15 minutos depois tinha início a sessão solene, no edifício do porto local. O carro levou-o até junto do edifício e assim o ministro não teve de enfrentar a população da Margem Sul». E não houve registo de assobios! Inferiu, é certo, mas como e com que base?! Como é que ele pôde saber que os assobios não eram dirigidos ao próprio Sócrates?! Terá consultado que oráculo?! E porquê este título?! E porque uma notícia pressurosamente justificativa?! Bom e rigoroso está o jornalismo da Pólis!

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8 de junho de 2007

Mais um «esbulho» legal: os bancos, esses nossos amigos, e... os agarrados

O Governo e a sociedade clamam contra o endividamento das famílias mas pouco fazem para o limitar. Nesse endividamento generalizado – crédito para a compra de casa, de carro e de outros bens de consumo (electrodomésticos, roupas, férias) – a parcela maior é invariavelmente a primeira: o crédito à habitação. Resta dizer que ainda tenho um crédito desses. Dos outros não tenho, nem quero.
O contrato que negociei com a instituição bancária onde tenho esse crédito estabelece que posso liquidar anualmente até 50% do valor do empréstimo contra o pagamento de uma taxa de serviço de €125. Se liquidar mais de 50% num mesmo ano, pagarei, além da dita taxa de serviço, mais 2% sobre o valor da entrega. Andei às turras num processo que acabou mal com uma outra instituição bancária que me queria cobrar 7% por toda e qualquer liquidação antecipada?!?!? É verdade, 7%?!?! Por um triz, faria jus aos célebres onzeneiros vicentinos...
Os bancos querem-nos agarrados!
Quando celebrei o meu actual contrato, tinha a minha antiga casa integralmente paga mas ainda por vender, daí que tivesse particular cuidado na negociação dessa cláusula. Quando a vendi, cerca de um ano depois de pedir o empréstimo, o banco tentou demover-me de proceder à liquidação antecipada do capital, acenando-me com miríficos e rendosos produtos, numa atitude que roçou o que chamo de prática comercial agressiva. Claro que não cedi, mas tive de usar de alguma assertividade para que a minha zelosa gestora de conta me largasse a labita. As diferenças entre estas práticas e o time-sharing de rua foram mínimas: a moça estava mais bem vestida, é um facto; a abordagem foi feita entre quatro paredes e não na rua, sim senhor; a abordagem fez-se a coberto de um emblema de prestígio da finança internacional, é claro! O modo de fazer, a agressividade e o condicionamento ao cliente, porém, foram muito idênticos...
Decididamente, os bancos querem-nos agarrados!
Sabendo disto tudo, o Banco de Portugal estabeleceu, há já algum tempo, algumas regras para minorar estas práticas. Hoje é possível liquidar a todo o tempo o capital dos empréstimos para crédito à habitação e os bancos apenas podem cobrar a tal taxa de serviço e uma comissão de no máximo 0,5%. Eu acho que não deviam poder cobrar comissão nenhuma, quando muito a tal taxa de serviço e não no valor que cobram.
Então eu vou liquidar ou amortizar o empréstimo, representando um cada vez menor risco para o banco e ainda sou penalizado… Devia ser penalizado era por não pagar e não por pagar!? Por pagar, devia até ser beneficiado, eventualmente com uma redução da taxa de juro e do spread. O cliente que representa menos riscos devia ser um bom cliente mas é um mau cliente.
Um bom cliente é agora um cliente agarrado!
E o que dizer do facto de, por fazerem uma transferência da minha conta à ordem e introduzirem os novos valores nos simuladores do crédito à habitação e do seguro de vida, imprimindo um novo plano de empréstimo e uma nova apólice (aquilo é uma simples folha), operação que demora uns minutos a um funcionário e se traduz em duas folhas de papel impresso de imediato, que nem sequer assinadas são, me cobrarem €125…
Não é, pois, de estranhar, que os bancos engordem cada vez mais. Só assim é possível que, por exemplo, o maior banco privado português, o Millenium BCP, como refere A Visão da semana passada, se tenha valorizado em 5 meses – repito, 5 meses - mais de 28%. Exacto, mais de 28%! Ou seja, 13 mil milhões de euros.
Acho que está tudo dito, não?!

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6 de junho de 2007

Fotos da Pólis I


Jacarandás em flor
nas áleas da Pólis...
Atapetam-lhe o chão...
Atapetam-me a alma...
Rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa (3-6-2007).
Fotos - Pólis&etc.

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1 de junho de 2007

Mais um esbulho legal: onde está o meu dinheiro?

Ontem fiz uma transferência interbancária de uma conta minha numa instituição bancária para outra conta minha numa outra instituição bancária. Calha que ambas distem uma da outra aí uns cinco minutos a pé. Se pegasse no dinheiro e o lá fosse levar, mesmo estando à espera em ambos os balcões, não levaria mais de meia hora a fazê-lo e ficaria logo disponível.
Porém, hoje de manhã, 24 horas depois, ainda não tinha lá o dinheiro. Isto com toda a parafrenália tecnológica de que a banca dispõe… Diz-se até que o chamado homebanking da banca portuguesa é avançadíssimo e ao nível do que de melhor existe na Europa…
Calhou também que um amigo meu, que trabalha no Banco de Portugal, me tenha falado há já algum tempo – vendo literalmente ao preço que comprei, já que sou um leigo nestas matérias - em algo a que chamou aplicações overnight. Segundo ele, são operações por um dia útil. Ou seja, no período de limbo, que medeia entre uma ordem do cliente para um pagamento, transferência ou o que seja, os bancos aproveitam para colocar aquele dinheiro em aplicações financeiras de curto prazo. Mesmo que isso se passe no período em que a instituições bancárias estão encerradas. Nesse caso, fazem-no em mercados de capitais distantes, aproveitando as diferenças de fusos horários. E só disponibilizam o dinheiro no destino no limite do prazo legal ou administrativo ou até depois dele… Ninguém reclama por umas horas a mais…
Este prazo, que era em tempos não muitos distantes de três dias, é agora – parece-me - de um dia… isto porque o Banco Central descobriu o que todos já sabíamos, ou seja, que havia gente seriíssima a ganhar dinheiro com o nosso dinheiro… Apropriavam-se dele, sem autorização, e aplicavam-no, sem nos darem quaisquer dividendos, por uns dias ou por umas horas...
Calhou agora lembrar-me destas situações!
Sobre a presente, e mesmo com a mudança recente no prazo, gostava imenso de saber por onde andou o meu dinheiro. Facto é que entre ontem e hoje ele mudou de posse, embora nunca tenha mudado?!?!?! E isto – claro está - é tudo legalíssimo…

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