25 de maio de 2008

Politiqueira e reles...

Os nossos banqueiros quase não aparecem nos media, e quando o fazem é sobretudo nos media económicos. Cultivam um low profile quase absoluto. Não aparecem. Não têm o desejo de aparecer, nem de se fazer notar. Querem apenas comprar e vender dinheiro. E conseguir sempre maiores lucros. A discrição é a regra do negócio. Criam com isso a confiança dos clientes. Cito de memória apenas alguns dos, apesar de tudo, mais mediáticos: Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, Filipe Pinhal, Fernando Ulrich. Alguns deles, uns mais outros menos, aparecem mesmo como uma espécie de príncipes de Renascença, de pose exemplar, declarações estudadas, medidas, totalmente substantivas. Mesmo sob pressão, nunca perdem o polimento a toda a prova e deixam a chicana para os outros protagonistas da arena social, como por exemplo os políticos. Que aliás lhes fazem a vontade, com declarações que só os descredibilizam. Criam com isso desconfiança junto dos cidadãos. Por isso descremos dos políticos e acabamos por crer nos banqueiros. Mesmo que mais enlameados com toda a sorte de salários e de privilégios decididos em causa própria, com negócios com contornos fiscais pouco claros, quase nunca aparecem com mais do que salpicos. Há semanas, ouvi e estranhei um deles sair do tom. Foi Fernando Ulrich, que qualificou uma putativa iniciativa do Governo para controlar os salários dos gestores de topo como politiqueira e reles. Nunca tinha ouvido um banqueiro usar este tipo de linguagem, estes adjectivos. É claro que a putativa medida mexe com aquilo que é mais sagrado para ele, o vil metal. Daí a reacção! Mas não deixou de ser sintomático!
Isto veio-me à memória, depois de ouvir hoje, numa das televisões da Pólis, que o Real Madrid terá oferecido 82 000 euros por dia a Cristiano Ronaldo.
Não me incomodo com os salários alheios. E sou inteiramente favorável ao prémio do mérito. Os melhores têm e devem ganhar mais. Já por aqui me manifestei inclusive favorável ao pagamento do polémico vencimento do antigo director-geral das contribuições e impostos, Paulo Macedo. Mas os valores que têm vindo a lume sobre os salários de alguns gestores de topo e de alguns futebolistas de topo são tão obscenos que nos devem obrigar, sobretudo na actual conjuntura económica-financeira, a pelo menos equacionar algum tipo de regulação.

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16 de maio de 2008

To smoke or not to smoke

O PM e a comitiva fumaram no avião na viagem de estado para a Venezuela, em violação da recente lei que proíbe o fumo em diversos locais, inclusive nos transportes. Logo houve quem viesse acusar O Público, que tratou o caso, de perseguição. Logo houve também quem viesse acusar o PM de hipócrita por não cumprir com aquilo que legisla. O PM veio pedir desculpas com declarações muitíssimo normais. E esvaziou aquilo.
Eu acho que ambos fizeram o que tinham a fazer. O PM violar uma lei recente e polémica é notícia e como tal deve ser tratado. O Público fez o seu trabalho. O PM reconhecer que violou a lei e pedir desculpa é sério. Não se refugiou em ardis jurídicos de mau pagador como o inspector-geral da ASAE.
Isto é a democracia a funcionar.
Há quem venha agora dizer – já o ouvi de alguns juristas e até de constitucionalistas?!?! que se pronunciaram sobre esta magna questão – que se devia levantar um processo e que o PM devia pagar a respectiva multa. Há sempre destes zelotas! Não me interessa grandemente. Se quisermos ser estritos, sim. Mas o fundamental já ele fez que foi reconhecer e pedir desculpa. Agrada-me sempre ver reacções normais nos políticos.

Obs. - E a foto, foi retirada daqui.

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11 de maio de 2008

Verdade/Justiça vs habilidade/lei

Esta chegou-me há uns dias por mail, pela mão de uma amiga. Tal qual está. Corrigi apenas um errito ortográfico. Chegou-me inclusive com a nota que está em baixo. Não lhe dou, pelo menos à nota, nenhum crédito. Acho que não deve ser verdadeira. Independentemente de o ser ou não, o que a carta acaba por ilustrar é um modo de funcionamento conhecido de todos em que a Verdade e a Justiça ficam sempre a perder para a habilidade argumentativa e para a lei. Lembrei-me desta e recuperei o texto após conhecer o desfecho da Comissão de Disciplina da Liga Portuguesa de Futebol Profissional sobre o caso Apito Final e depois de ver as declarações de alguns engenheiros nas televisões da Pólis.

Argumentação de um engenheiro português que foi apanhado a 250 Km/h numa estrada onde o limite era de 70 Km/h.
Ex.mo Sr. Dr. Juiz,
Meretíssimo:
Confirmo que vi na estrada a marca de 70 em números negros inscritos num círculo vermelho, sem qualquer informação de unidades.
Ora, como sabe, a Lei de 4 de Julho de 1837 torna obrigatório em Portugal o sistema métrico, e o Decreto 65-501 de 3 de Maio de 1961, modificado de acordo com as directivas europeias, define, como unidade DE BASE LEGAL, as unidades do Sistema Internacional, SI. Poderá confirmar tudo no site do Governo.
Ora, no sistema SI, a unidade de comprimento é o "Metro", e a unidades de Tempo é o "Segundo". Torna-se portanto evidente que a unidade de Velocidade é o "Metro por Segundo". Não me passaria pela cabeça que o Ministério aplicasse uma unidade diferente.
Assim sendo, os 70 Metros por Segundo correspondem, exactamente a 252 Km/h. Ora a Polícia afirma que me cronometrou a 250 Km/h o que eu não contesto. Circulava portanto 2 Km/h abaixo do limite permitido.
Esperando a aceitação dos meus argumentos, de V. Exa.
António Nogueira
(Engº Civil, IST)
NOTA: O ENGENHEIRO NÃO FOI CONDENADO!

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5 de maio de 2008

A esquadra sem porta

Num dos últimos dias da semana que passou uma reportagem da SIC da Pólis apresentou o caso de uma esquadra sem porta. Ali mesmo, ao Rossio. No coração de Lisboa. Após este caso, que deu o mote, o repórter aproveitou o balanço e avançou para a falta de condições de algumas esquadras. O caso não é, aliás, só das esquadras. Os serviços públicos, de uma forma geral, têm níveis de conforto muitos furos abaixo da maioria das empresas. Apesar de muitos encherem a boca com os gastos supérfluos do Estado...
Em seguida, ouviu-se o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, sobre o caso da esquadra sem porta. O ministro, questionado directamente sobre isso, ignorou por completo o caso concreto e fez um discurso genérico sobre os méritos do governo no reforço das condições das esquadras e das forças de segurança. Onde se exigia que se circunscrevesse ao que foi perguntado e dissesse alguma coisa simples, do tipo: «não sei, não conheço, mas se me diz isso, vou averiguar e se for tal como diz, para a semana já está resolvido», veio debitar uma ladainha sebenteira e propagandística. E sobretudo - e isso é o mais me aborrece - passar um atestado de menoridade mental aos cidadãos da Pólis que tiveram de o ouvir. Confesso que não sei mais o que me custa, se os políticos puros e duros, oficiais do ofício, treinados na arte do discurso areado se este tipo de gente de abordagens canhestras e sem o menor lastro político...

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