27 de maio de 2007
Nota - E a imagem, fomos buscá-la ao site do SCP.
Mais um esbulho legal: «miaus» sem recibo
Ontem fui ao veterinário com o gato da mãe. Quinze minutos, três injecções, uns medicamentos, um saco de comida: uma daquelas mixórdias ensacadas. Supostamente previne infecções urinárias e doenças associadas. Parece que os gatos castrados são mais atreitos a este tipo de complicações. O gato castrado, sou eu que digo, isto para não dizer capado. Para a minha mãe, trata-se de um gato preparado. Acho a expressão deliciosa! Preparado para quê?! Acho que o bicho não está é já preparado para mais nada! Voltando à mixórdia, como sou do tempo em que os gatos comiam peixe cozido e frito, acho tudo isto uma esquisitice. Por junto, a coisa ficou por 100 euros, certos, o que mostra bem o rigor das contas do doutor. Já em casa, dou uma vista de olhos aos medicamentos e à mixórdia. Nada de preços nas embalagens! Interrogo-me sobre se isto é legal?! Perguntei pelo recibo, só mesmo para ver, por curiosidade, quanto custou o quê. Diz-me a minha mãe: «ele não passou recibo». Eu: «então e não pediste?». Ela: «eles nunca passam!». E isto foi dito com a assertividade das sentenças sem recurso. Parece, portanto, ser prática normal dos veterinários, pelo menos dos 2 ou 3 a que a minha mãe já foi. O dito, com o qual me cruzei enquanto carregava o bichano, era uma criatura afável, urbana e sociável, de meia-idade, há muito habituado a lidar com os bichos chaperon de velhos e novos da cidade. Surpreendi-lhe mesmo algumas expressões retiradas das melhores selectas sobre a arte de ser veterinário urbano: «vamos lá ver a fera». A seguir, claro, faço a minha prédica cívica à minha mãe. Digo-lhe de chofre: «tens consciência que o homem nos roubou, a ti e a todos nós, mais de 20 euros que é o valor do IVA, não tens?!». Ela registou, mas não ficou lá muito convencida. Ladrões são os ratoneiros do metropolitano, os que roubam carteiras, não estes! É triste mas é esta a mentalidade reinante e vai demorar pelo menos mais duas gerações a mudar isto. Estou naturalmente inteiramente disponível para informar as Finanças da Pólis sobre quem é o veterinário. Aliás, fá-lo-ei sem qualquer escrúpulo de delação. Antes com a consciência de ter feito um acto cívico que, a prazo, contribuirá para melhorar a vida da Pólis.
21 de maio de 2007
O general no seu labirinto…

Nota - E a imagem, fomos buscá-la aqui.
16 de maio de 2007
Postecipemos, pois!
Tenho uma aplicação financeira numa conta na Caixa Geral de Depósitos (CGD). Uns quantos euros num fundo designado Caixa Gest Curto Prazo, cujo único propósito é evitar que me cobrem uma comissão trimestral pela chamada gestão da conta. Pois para poder usufruir do magno benefício de nada me cobrarem por lá terem o meu dinheiro, tenho de ter associado à dita conta um produto. Palavras deles! Da aplicação, recebo mensalmente um extracto com a pomposamente designada posição da carteira. Desta vez, o extracto apareceu-me encimado por um parágrafo críptico. Já estou habituado a perceber com dificuldade a conversa dos bancos, prenhe do jargão da arte e, o que é pior, muito mal escrita. Eis o tal parágrafo críptico, tal como veio na carta:
«A COMISSÃO DE GUARDA DE VALORES MOBILIÁRIOS PASSOU A SER POSTECIPADA, TRIMESTRAL E PROPORCIONAL À PERMANÊNCIA DOS VM EM CARTEIRA (MÍNIMO 1 MÊS), DESDE 1/7/2006: CENTRAL NACIONAL – €7; CLIENTES RESIDENTES NO ESTRANGEIRO OU CENTRAL INTERNACIONAL– €35. PARA QUALQUER ESCLARECIMENTO ADICIONAL LIGUE 707242424»
Da conversa, só percebi, melhor, antevi, que aquilo se destinava a cobrar alguma coisa. Telefonei para o tal número mas estava cronicamente interrompido. Telefonei depois à minha agência. Tirando os gestores de conta, o atendimento telefónico dos bancos é feito por aquelas telefonistas profissionais, outrora chamada meninas e agora chamadas operadoras de call centers. Dizem sempre que têm muito prazer em falar comigo e tratam-me pelo nome completo, coisa que só oiço quando vou votar, tomar posse ou fazer uma escritura. A dita menina ou operadora de call center não sabia responder – nunca sabem – mas foi indagar. A explicação, embora tecnicamente atabalhoada, foi-me dita com o ar proficiente dos sábios da banca e permitiu-me concluir que estava isento, por aquela aplicação se tratar de um fundo de investimento e não de um fundo de acções. Porém, vem na minha carta! E obrigou-me a fazer duas chamadas telefónicas… E mesmo que tal me dissesse respeito, não saberão aquelas almas que o postecipar nem sequer existe na Língua Portuguesa e sobretudo que, tirando os sábios da banca e alguns - poucos - juristas, mais ninguém sabe o que é! Isto para além de utilizarem expressões equívocas e vazias de sentido como Central Nacional, para designar a comissão aplicada a clientes nacionais ou Central Internacional, para designar a sua equivalente aplicada a clientes residentes no estrangeiro! Ou ainda que, pondo o texto em maiúsculas – para além da má-criação -, pode fazer pensar que a tal comissão é a CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários)…
De qualquer dos modos, passo a traduzir aquela conversa em linguagem inteligível aos cidadãos da Pólis que não estejam nas categorias atrás mencionadas:
«A comissão pela guarda de valores mobiliários (VM) passou, desde 1/7/2006, a ser cobrada trimestralmente. O montante da comissão, que para clientes nacionais é de €7 e para clientes residentes no estrangeiro é de €35, é calculado proporcionalmente ao período de permanência dos VM em carteira, sendo o período mínimo de um 1 mês»
Usei propositadamente apenas as próprias palavras que lá estão. Tirando, claro, o postecipar. E alindei a coisa. Se fizesse de raiz, ainda melhorava a clareza... Mas acho que já está bem melhor e sobretudo mais claro do que o que eu recebi. A tradução é free of charges, pro bono, de borla, gratuita e está à disposição da CGD… Façam lá o favor…
«A COMISSÃO DE GUARDA DE VALORES MOBILIÁRIOS PASSOU A SER POSTECIPADA, TRIMESTRAL E PROPORCIONAL À PERMANÊNCIA DOS VM EM CARTEIRA (MÍNIMO 1 MÊS), DESDE 1/7/2006: CENTRAL NACIONAL – €7; CLIENTES RESIDENTES NO ESTRANGEIRO OU CENTRAL INTERNACIONAL– €35. PARA QUALQUER ESCLARECIMENTO ADICIONAL LIGUE 707242424»
Da conversa, só percebi, melhor, antevi, que aquilo se destinava a cobrar alguma coisa. Telefonei para o tal número mas estava cronicamente interrompido. Telefonei depois à minha agência. Tirando os gestores de conta, o atendimento telefónico dos bancos é feito por aquelas telefonistas profissionais, outrora chamada meninas e agora chamadas operadoras de call centers. Dizem sempre que têm muito prazer em falar comigo e tratam-me pelo nome completo, coisa que só oiço quando vou votar, tomar posse ou fazer uma escritura. A dita menina ou operadora de call center não sabia responder – nunca sabem – mas foi indagar. A explicação, embora tecnicamente atabalhoada, foi-me dita com o ar proficiente dos sábios da banca e permitiu-me concluir que estava isento, por aquela aplicação se tratar de um fundo de investimento e não de um fundo de acções. Porém, vem na minha carta! E obrigou-me a fazer duas chamadas telefónicas… E mesmo que tal me dissesse respeito, não saberão aquelas almas que o postecipar nem sequer existe na Língua Portuguesa e sobretudo que, tirando os sábios da banca e alguns - poucos - juristas, mais ninguém sabe o que é! Isto para além de utilizarem expressões equívocas e vazias de sentido como Central Nacional, para designar a comissão aplicada a clientes nacionais ou Central Internacional, para designar a sua equivalente aplicada a clientes residentes no estrangeiro! Ou ainda que, pondo o texto em maiúsculas – para além da má-criação -, pode fazer pensar que a tal comissão é a CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários)…
De qualquer dos modos, passo a traduzir aquela conversa em linguagem inteligível aos cidadãos da Pólis que não estejam nas categorias atrás mencionadas:
«A comissão pela guarda de valores mobiliários (VM) passou, desde 1/7/2006, a ser cobrada trimestralmente. O montante da comissão, que para clientes nacionais é de €7 e para clientes residentes no estrangeiro é de €35, é calculado proporcionalmente ao período de permanência dos VM em carteira, sendo o período mínimo de um 1 mês»
Usei propositadamente apenas as próprias palavras que lá estão. Tirando, claro, o postecipar. E alindei a coisa. Se fizesse de raiz, ainda melhorava a clareza... Mas acho que já está bem melhor e sobretudo mais claro do que o que eu recebi. A tradução é free of charges, pro bono, de borla, gratuita e está à disposição da CGD… Façam lá o favor…
Etiquetas: Bancos, Língua Portuguesa
10 de maio de 2007
A roseta figura: reflexões alfacinhas
Helena Roseta chegou-se à frente e parece que vai ser candidata à Câmara Municipal de Lisboa (CML) como independente. Já foi, aliás, independente dentro de um partido político, o que é, de algum modo, um contra-senso nos seus termos, pelo que apenas recuperou o estatuto que já teve. Soubemos também que ela havia escrito, há uns meses, uma carta ao líder do PS sobre a situação da CML, porventura constituindo-se como alternativa. Como não teve resposta, saiu do partido, exactamente agora. Realmente conveniente! Imagino que não saísse se o PS respondesse positivamente às suas pretensões e que que saísse indignada se a resposta fosse negativa. Assim, saí apenas melindrada por não ter tido resposta. Como se vê, pois, na saída só muda o adjectivo. O melindrada ouvi-o da boca de Manuel Alegre que já saiu em defesa dela. Favor com favor se paga! Deixando tudo isto de lado, confesso que racionalmente aceito este chegar-se à frente para o desempenho de cargos públicos. Quem quer, deve dizer que quer e ir à luta. Porém, talvez por educação – admito que errada – repugna-me este comportamento. Neste momento – admito ainda que não é a razão que fala – sinto nojo por ele. Naturalmente que as manobras de diversão: carta e etc. também ajudam, e muito, a compor o ramalhete. Mas, a meus olhos, pelo menos para uma coisa tudo isto serviu: foi para excluir liminarmente das minhas opções a roseta figura.
Etiquetas: Autarquias, Comportamentos, Eleições, Políticos
8 de maio de 2007
Diga 36
Etiquetas: Artes, Publicidade, Teatro
5 de maio de 2007
O candidato
Já no rescaldo do caso da licenciatura do Primeiro-Ministro (PM), José Sócrates, que para o bem ou para o mal já jaz, com pouca terra por cima mas já jaz, coloquei há dias, num pequeno grupo de amigos, cuja posição perante o mesmo divergia, um cenário prospectivo para análise, sobretudo àqueles que adoptam uma posição de tipo «who cares», «há coisas mais importantes» ou «não há alternativas». São sempre tiros laterais, desculpabilizantes e que não vão ao fundo das coisas. Porém, aqui como em tudo, cada qual come do que gosta. Eu não gosto e por isso não como. Adiante! O cenário era, aliás, elementar e consistia numa simples pergunta lançada para a fogueira da conversa: «alguém vê o Sócrates como candidato do PS à Presidência da República?» Surpreendi, então, alguns volteios na cadeira, uns menear de rostos, alguma incomodidade nos sectores mais rosáceos mas não vislumbrei nenhuma resposta afirmativa. O máximo que consegui foi um tímido «talvez»! É que, descontando o fenómeno Santana Lopes, que não chegou a PM por via directa, digamos, assim, qualquer vulgar cidadão da Pólis consegue ver todos os outros ex-PM eleitos como potenciais e bons candidatos das respectivas áreas políticas. E Sócrates?! Ninguém agora se atreve a afirmá-lo peremptoriamente. Porque será! Será só porque está agora a meio do mandato? Creio que não e até acho que há umas semanas todos responderiam afirmativamente. Eu, seguramente, sim.
Etiquetas: Personagens, Políticos