27 de maio de 2007

E para além da Taça...

E para além da Taça, agradou-me a cumplicidade especial dos putos: Nani, Veloso, Djaló, cujos festejos a três começam já a fazer história, mantendo aquele espírito de cantera na equipa principal; os festejos de Liedson depois do golo; as declarações de Miguel Veloso quando disse «devo tudo a esta Casa»; as declarações sempre sensatas de João Moutinho: será seguramente um forte candidato a capitão do Sporting?! E em geral, o grande contentamento por ter ganho a Taça, mas não desmedido, e tendo sempre presente que se perdeu o fundamental. Temos gente, temos ambição!
Nota - E a imagem, fomos buscá-la ao site do SCP.

Mais um esbulho legal: «miaus» sem recibo

Ontem fui ao veterinário com o gato da mãe. Quinze minutos, três injecções, uns medicamentos, um saco de comida: uma daquelas mixórdias ensacadas. Supostamente previne infecções urinárias e doenças associadas. Parece que os gatos castrados são mais atreitos a este tipo de complicações. O gato castrado, sou eu que digo, isto para não dizer capado. Para a minha mãe, trata-se de um gato preparado. Acho a expressão deliciosa! Preparado para quê?! Acho que o bicho não está é já preparado para mais nada! Voltando à mixórdia, como sou do tempo em que os gatos comiam peixe cozido e frito, acho tudo isto uma esquisitice. Por junto, a coisa ficou por 100 euros, certos, o que mostra bem o rigor das contas do doutor. Já em casa, dou uma vista de olhos aos medicamentos e à mixórdia. Nada de preços nas embalagens! Interrogo-me sobre se isto é legal?! Perguntei pelo recibo, só mesmo para ver, por curiosidade, quanto custou o quê. Diz-me a minha mãe: «ele não passou recibo». Eu: «então e não pediste?». Ela: «eles nunca passam!». E isto foi dito com a assertividade das sentenças sem recurso. Parece, portanto, ser prática normal dos veterinários, pelo menos dos 2 ou 3 a que a minha mãe já foi. O dito, com o qual me cruzei enquanto carregava o bichano, era uma criatura afável, urbana e sociável, de meia-idade, há muito habituado a lidar com os bichos chaperon de velhos e novos da cidade. Surpreendi-lhe mesmo algumas expressões retiradas das melhores selectas sobre a arte de ser veterinário urbano: «vamos lá ver a fera». A seguir, claro, faço a minha prédica cívica à minha mãe. Digo-lhe de chofre: «tens consciência que o homem nos roubou, a ti e a todos nós, mais de 20 euros que é o valor do IVA, não tens?!». Ela registou, mas não ficou lá muito convencida. Ladrões são os ratoneiros do metropolitano, os que roubam carteiras, não estes! É triste mas é esta a mentalidade reinante e vai demorar pelo menos mais duas gerações a mudar isto. Estou naturalmente inteiramente disponível para informar as Finanças da Pólis sobre quem é o veterinário. Aliás, fá-lo-ei sem qualquer escrúpulo de delação. Antes com a consciência de ter feito um acto cívico que, a prazo, contribuirá para melhorar a vida da Pólis.

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21 de maio de 2007

O general no seu labirinto…

A propósito do caso de Madeleine McCann, assisti na semana passada, nas televisões da Pólis, a uma conferência de imprensa dada por um inspector-chefe da PJ, de nome Olegário Sousa. Creio que é o responsável pela investigação! A conferência de imprensa foi dada numa sala acanhada onde havia um palanque e uma mesa. Nela, apenas vi, da parte portuguesa, o inspector, o palanque e a mesa. E, da parte inglesa, a parafrenália tecnológica que sempre acompanha as televisões e umas dezenas de jornalistas! Como não parecia haver qualquer staff de apoio, a dada altura, os jornalistas atiraram-se aos papéis - presumo que comunicados de imprensa - que eram também distribuídos pelo tal inspector-chefe. Gerou-se aí uma enorme confusão e o tal inspector já só pedia «ordem e disciplina». Ora, o pobre homem já tinha a espinhosa tarefa de explicar o inexplicável para os ingleses, ou seja, o cretinismo da lei portuguesa em matéria de segredo de justiça. Ainda por cima teve de fazê-lo sozinho, sem retaguarda, sem apoio, sem organização: um pouco como uma operação policial no terreno feita por um só agente... Como conheço bem Portimão, sei onde são as instalações da PJ: um prédio apequenado e pindérico junto ao rio. Como conheço bem Portimão, sei que há outros equipamentos na cidade onde se podia organizar, com uma outra dignidade, uma conferência de imprensa para um caso como este. Nem sequer vi, mas admito que existisse, por detrás do homem, o logótipo da PJ, o escudo nacional, a bandeira da PJ, a bandeira nacional, a bandeira da UE… Escudos refulgentes, prateados e dourados, areados para a ocasião! Enfim, a habitual mise-en-scène institucional, alguma solenidade… Como não há tradição na PJ de organização de conferências de imprensa, aquilo foi o que foi. Assim, os ingleses, independentemente de tudo, só podem – e bem – achar que Portugal é um país de sol e mar, situado nas bordas do Mediterrâneo e mais próximo de África do que da Europa, com leis incompreensíveis, instalações policiais paupérrimas, conferências de imprensa amadoras… Creio que por estes dias, o bom efeito Expo 1998 e Euro 2004 se perdeu bastante, para além do Canal da Mancha… Valha-nos, pois, Mourinho, Cristiano Ronaldo e C.ª… Entretanto, por cá, também não seria mau ver alguém preocupado com isso...
Nota - E a imagem, fomos buscá-la aqui.

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16 de maio de 2007

Postecipemos, pois!

Tenho uma aplicação financeira numa conta na Caixa Geral de Depósitos (CGD). Uns quantos euros num fundo designado Caixa Gest Curto Prazo, cujo único propósito é evitar que me cobrem uma comissão trimestral pela chamada gestão da conta. Pois para poder usufruir do magno benefício de nada me cobrarem por lá terem o meu dinheiro, tenho de ter associado à dita conta um produto. Palavras deles! Da aplicação, recebo mensalmente um extracto com a pomposamente designada posição da carteira. Desta vez, o extracto apareceu-me encimado por um parágrafo críptico. Já estou habituado a perceber com dificuldade a conversa dos bancos, prenhe do jargão da arte e, o que é pior, muito mal escrita. Eis o tal parágrafo críptico, tal como veio na carta:

«A COMISSÃO DE GUARDA DE VALORES MOBILIÁRIOS PASSOU A SER POSTECIPADA, TRIMESTRAL E PROPORCIONAL À PERMANÊNCIA DOS VM EM CARTEIRA (MÍNIMO 1 MÊS), DESDE 1/7/2006: CENTRAL NACIONAL – €7; CLIENTES RESIDENTES NO ESTRANGEIRO OU CENTRAL INTERNACIONAL– €35. PARA QUALQUER ESCLARECIMENTO ADICIONAL LIGUE 707242424»

Da conversa, só percebi, melhor, antevi, que aquilo se destinava a cobrar alguma coisa. Telefonei para o tal número mas estava cronicamente interrompido. Telefonei depois à minha agência. Tirando os gestores de conta, o atendimento telefónico dos bancos é feito por aquelas telefonistas profissionais, outrora chamada meninas e agora chamadas operadoras de call centers. Dizem sempre que têm muito prazer em falar comigo e tratam-me pelo nome completo, coisa que só oiço quando vou votar, tomar posse ou fazer uma escritura. A dita menina ou operadora de call center não sabia responder – nunca sabem – mas foi indagar. A explicação, embora tecnicamente atabalhoada, foi-me dita com o ar proficiente dos sábios da banca e permitiu-me concluir que estava isento, por aquela aplicação se tratar de um fundo de investimento e não de um fundo de acções. Porém, vem na minha carta! E obrigou-me a fazer duas chamadas telefónicas… E mesmo que tal me dissesse respeito, não saberão aquelas almas que o postecipar nem sequer existe na Língua Portuguesa e sobretudo que, tirando os sábios da banca e alguns - poucos - juristas, mais ninguém sabe o que é! Isto para além de utilizarem expressões equívocas e vazias de sentido como Central Nacional, para designar a comissão aplicada a clientes nacionais ou Central Internacional, para designar a sua equivalente aplicada a clientes residentes no estrangeiro! Ou ainda que, pondo o texto em maiúsculas – para além da má-criação -, pode fazer pensar que a tal comissão é a CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários)…

De qualquer dos modos, passo a traduzir aquela conversa em linguagem inteligível aos cidadãos da Pólis que não estejam nas categorias atrás mencionadas:

«A comissão pela guarda de valores mobiliários (VM) passou, desde 1/7/2006, a ser cobrada trimestralmente. O montante da comissão, que para clientes nacionais é de €7 e para clientes residentes no estrangeiro é de €35, é calculado proporcionalmente ao período de permanência dos VM em carteira, sendo o período mínimo de um 1 mês»

Usei propositadamente apenas as próprias palavras que lá estão. Tirando, claro, o postecipar. E alindei a coisa. Se fizesse de raiz, ainda melhorava a clareza... Mas acho que já está bem melhor e sobretudo mais claro do que o que eu recebi. A tradução é free of charges, pro bono, de borla, gratuita e está à disposição da CGD… Façam lá o favor…

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10 de maio de 2007

A roseta figura: reflexões alfacinhas

Helena Roseta chegou-se à frente e parece que vai ser candidata à Câmara Municipal de Lisboa (CML) como independente. Já foi, aliás, independente dentro de um partido político, o que é, de algum modo, um contra-senso nos seus termos, pelo que apenas recuperou o estatuto que já teve. Soubemos também que ela havia escrito, há uns meses, uma carta ao líder do PS sobre a situação da CML, porventura constituindo-se como alternativa. Como não teve resposta, saiu do partido, exactamente agora. Realmente conveniente! Imagino que não saísse se o PS respondesse positivamente às suas pretensões e que que saísse indignada se a resposta fosse negativa. Assim, saí apenas melindrada por não ter tido resposta. Como se vê, pois, na saída só muda o adjectivo. O melindrada ouvi-o da boca de Manuel Alegre que já saiu em defesa dela. Favor com favor se paga! Deixando tudo isto de lado, confesso que racionalmente aceito este chegar-se à frente para o desempenho de cargos públicos. Quem quer, deve dizer que quer e ir à luta. Porém, talvez por educação – admito que errada – repugna-me este comportamento. Neste momento – admito ainda que não é a razão que fala – sinto nojo por ele. Naturalmente que as manobras de diversão: carta e etc. também ajudam, e muito, a compor o ramalhete. Mas, a meus olhos, pelo menos para uma coisa tudo isto serviu: foi para excluir liminarmente das minhas opções a roseta figura.

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8 de maio de 2007

Diga 36

Tarde de um domingo ensolarado de Primavera em Lisboa. Realmente a convidar ao ar livre, mas ainda não à praia, a não ser para passeio. Ponho pés a caminho e vou à Comuna ver O Tartufo, uma encenação de João Mota da celebrada peça de Molière. À chegada, vejo com alguma surpresa que a peça iria decorrer na chamada sala nova de A Comuna, um anexo, uma salinha pequena e intimista, daquelas onde se pode ouvir os actores a pisar o palco. Até me agradou, mas logo antevi que a peça não iria ter muitos espectadores. Porém, o que não antevia era que tivesse apenas 36 almas, três dúzias certas, que as contei. Atravessando a praça, dita de Espanha, temos a Gulbenkian, onde, ainda não há muito tempo, verdadeiras hordas pela noite fora esperaram para ver a exposição de Amadeo de Souza-Cardozo… Ademais, se pusermos lado a lado uma peça teatro e uma exposição de pintura, a primeira parece ter condições para ser mais popular… E se pusermos lado a lado Molière e Amadeo, temos de convir que o primeiro tem bastante mais condições para chamar o que se convencionou chamar de grande público… Uma espreitadela ao site de A Comuna dá-me talvez um princípio de explicação para este acentuado contraste: está desactualizado e a peça O Tartufo nem sequer lá consta. Ainda lá a está a peça anterior: O Misantropo?! Ora sem investir ou encontrar patrocínios para a promoção dos espectáculos não é possível chamar públicos… E esse é um vital imperativo de sobrevivência daquelas que, como o teatro, não são hoje as artes da moda neste tempo de variada oferta cultural…

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5 de maio de 2007

O candidato

Já no rescaldo do caso da licenciatura do Primeiro-Ministro (PM), José Sócrates, que para o bem ou para o mal já jaz, com pouca terra por cima mas já jaz, coloquei há dias, num pequeno grupo de amigos, cuja posição perante o mesmo divergia, um cenário prospectivo para análise, sobretudo àqueles que adoptam uma posição de tipo «who cares», «há coisas mais importantes» ou «não há alternativas». São sempre tiros laterais, desculpabilizantes e que não vão ao fundo das coisas. Porém, aqui como em tudo, cada qual come do que gosta. Eu não gosto e por isso não como. Adiante! O cenário era, aliás, elementar e consistia numa simples pergunta lançada para a fogueira da conversa: «alguém vê o Sócrates como candidato do PS à Presidência da República?» Surpreendi, então, alguns volteios na cadeira, uns menear de rostos, alguma incomodidade nos sectores mais rosáceos mas não vislumbrei nenhuma resposta afirmativa. O máximo que consegui foi um tímido «talvez»! É que, descontando o fenómeno Santana Lopes, que não chegou a PM por via directa, digamos, assim, qualquer vulgar cidadão da Pólis consegue ver todos os outros ex-PM eleitos como potenciais e bons candidatos das respectivas áreas políticas. E Sócrates?! Ninguém agora se atreve a afirmá-lo peremptoriamente. Porque será! Será só porque está agora a meio do mandato? Creio que não e até acho que há umas semanas todos responderiam afirmativamente. Eu, seguramente, sim.

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2 de maio de 2007

Frases da Pólis VII

De um leitor da Visão (n.º 738), Jorge Guimarães, do Porto, em carta dirigida a António Lobo Antunes:
«A minha vida tem sido números, que deixaram há muito de ser pertença das ciências exactas, para se tornarem também em ficções».
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