Tem sido muito debatida na blogosfera, e não só, a questão da vitória de 3 dos 4 candidatos arguidos, respectivamente, Fátima Felgueiras, em Felgueiras, Valentim Loureiro, em Gondomar, e Isaltino de Morais, em Oeiras. Fica de fora, por ter saído derrotado, Avelino Ferreira Torres, em Amarante. Todos eles eram arguidos por crimes praticados no desempenho do cargo para que foram eleitos. O mais importante dos quais – pelo tipo de acusação e pelo estado a que a mesma chegou, com a emissão de um mandado de captura visando a prisão preventiva – ou seja Fátima Felgueiras, ganhou mesmo com uma percentagem esmagadora. Será que as pessoas são tolas? Será que foi a vitória do populismo, do caciquismo e da manipulação? Sinceramente penso que não. Não, porque as pessoas não são assim tão manipuláveis. Não, porque houve vitórias para todos os gostos: mais urbanas – caso de Isaltino de Morais – ou mais interiores – caso de Fátima Felgueiras. Não tem, pois, também a ver com o estrato social ou sócio-cultural do eleitorado que os elegeu. É certo que alguns desses eleitores andam com a imagem da sua «santinha da ladeira», da sua «pequena Evita» (felgueirenses) mas outros não, porventura decidindo o seu voto de uma forma mais informada e estruturada (oeirenses). Claro que para este fenómeno convergem explicações de todo o tipo. Com mais ou menos cabimento. Até já vi um sociólogo de um qualquer centro ou observatório do poder autárquico da Universidade de Coimbra apresentar Fátima Felgueiras como «A Salvadora», fazendo leituras transcendentais com o nome de «Fátima», com a metáfora da «mãe», etc., etc. Mas, então, como explicar, no outro extremo, o fenómeno Isaltino. Bom, tenho para mim que isso tem a ver sobretudo com a natureza dos crimes de que são acusados, os chamados crimes económicos ou crimes de «colarinho branco». A valoração, em termos de ilicitude, desse tipo de crimes, é socialmente muito baixa. Aceitar umas «luvas» para deixar passar um projecto imobiliário ou alterar o PDM, fugir ao fisco através de umas contas no estrangeiro, usar indevidamente ou menos regularmente os dinheiros públicos, violando regras administrativas, são crimes cuja sanção social é baixíssima. E isto porque todos nós já o fizemos e fazemos, quanto mais não seja ao mentirmos na siza da casa ou ao pactuarmos com a prestação de serviços da oficina ou do canalizador sem a correspondente factura. Crime para nós é o roubo do fio por esticão, o roubo da carteira no autocarro, o roubo do auto-rádio e do telemóvel, o roubo do relógio ou da roupa de marca à saída da escola. Aceitar um serviço sem factura, lesando o Estado; declarar um valor mais baixo nas transacções de imóveis, isso não é crime. E é aqui a meu ver que se radica a razão última da vitória destes fenómenos…
Só nas próximas gerações, quando as ensinarmos a perceber que são os impostos que nos permitem ter escolas, hospitais, estradas, tribunais, polícia, exército, monumentos, e tudo o que uma sociedade organizada deve ter… Que eles são uma obrigação de todos nós para assim atingirmos o bem comum. Que eles são o sustentáculo de uma sociedade organizada... Só aí conseguiremos inverter este estado de coisas… Neste momento e neste particular ainda estamos demasiado perto de África ou da América Latina… Se colocarmos a mão bem fundo na nossa consciência, neste voto dos candidatos arguidos está um pouco de todos nós…
Imagem - Site do STAPE
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