30 de outubro de 2005

Provérbios em Cascais

«Quem tem filhos não tem cadilhos»
(provérbio adaptado pelo Pólis&etc.)

O presidente da Câmara Municipal de Cascais, António d’Orey Capucho, nomeou o filho, António Diogo Salema d’Orey Capucho, director da recém criada Direcção Municipal de Ordenamento, Planeamento e Ambiente (DOPA) daquele município. Já antes era assessor do Executivo Municipal para as áreas do Planeamento Estratégico e Cultura, Educação e Juventude.

«À mulher de César não basta sê-lo, tem de parecê-lo»
(provérbio sem as adaptações «bacocas» do Pólis&etc.)
Ou indo à fonte primeira do dito provérbio:
«Julgo que os meus familiares devem estar isentos tanto de suspeita como de crime. À mulher de César não convêm suspeitas»
(Suetónio - Caesar)

Ora?! Como se vê, isso era na Antiguidade... da Pólis…

Foto - Cópia do despacho de nomeação

FRASES DA PÓLIS I - O domínio do Ocidente

«O domínio do Ocidente é, possivelmente, o único paradigma que não se alterou nos últimos quinhentos anos. E nota como a Revolução Francesa foi um conceito exportado para quase todo o mundo, da América às Antilhas, da Rússia à América Latina, porque a democracia que se há-de tornar universal não é, senão de forma mitigada, a democracia ateniense: a nossa baseia-se no igualitarismo, a outra no elitismo. É apenas uma diferença de conceito, mas essa diferença é que nos faz modernos.»

António Mega Ferreira – Amor. Lisboa: Círculo de Leitores, 2004, p. 27.

Foto - Delacroix – A Revolução conduzindo o povo

29 de outubro de 2005

CURTAS DA PÓLIS I - Mais um «tiro no pé» do juiz Baptista Coelho

Pegando com o post anterior e ainda a propósito de Baptista Coelho, presidente da Associação Sindical de Juízes, que aliás se está a revelar um verdadeiro «caso sério» na vida da Pólis, pelas afirmações absolutamente desprovidas do mais leve indício de lógica argumentativa que não se vire contre ele próprio e a sua corporação, diz o «nosso» indispensável Grande Educador do Povo da Pólis, também conhecido por Expresso, esta semana:
«Expresso - Mas a greve não é, afinal, uma reacção corporativa?
Baptista Coelho - Isso é o argumento de quem não tem argumentos. O que está na base da greve não são as regalias, nem razões sindicais, mas sim a atitude de hostilização deste Governo em relação aos magistrados. Se somos órgãos de soberania, tratem-nos como tal e não como funcionários».
Comentário do Pólis&etc. - Acha mesmo que são órgãos de soberania, sr. dr. juiz Baptista Coelho? «Olhe que não, sr. dr.! Olhe que não!» Já viu os demais órgãos de soberania - Presidente da República, Assembleia da República e Governo - fazerem greve?!
A ideia, porém, tem potencial e é interessante. Isso sim, é que era uma autêntica «greve geral» na Pólis...

28 de outubro de 2005

Assessora, Magistrados, Juízes & Associados

O presidente do Sindicato dos Juízes, Baptista Coelho, insurgiu-se veementemente e pediu publicamente explicações ao Ministro da Justiça sobre a contratação de uma assessora, Susana Isabel Costa Dutra, que irá auferir €3254 mensais para actualizar o site do Ministério. E afirmou que isso poderia ser efectuado por um qualquer funcionário do dito Ministério. Independentemente das considerações que sobre aquele montante se possam fazer – se calhar é muito dinheiro, no entanto o ser pouco ou muito depende sobretudo da prestação e da qualidade do serviço da nomeada: quase ninguém contesta os vencimentos milionários do presidente da TAP e do director-geral dos impostos porque ambos mostraram serviço de grande qualidade – este argumento é um verdadeiro «tiro no pé». É que os magistrados do Ministério Público ganham entre €2355,87 e €5338,40 e os juízes entre €2355,87 e €5863,84, a que acrescem as múltiplas e variadas «mordomias» associadas à função. A menos que os senhores magistrados do MP e juízes achem – e o Pólis julga que acham – que a sua função é mais nobre e mais complexa do que aquela e porventura a mais nobre e a mais complexa de todas as funções do Estado. O Pólis acha que não. É apenas uma função social, importante – sem dúvida – mas tão nobre como muitas outras. E, neste tão contestado caso, o grau de exigência habilitacional e intelectual para a função é aliás semelhante ao da magistratura. O percurso formativo não será também muito diferente: a dita assessora é licenciada, porventura terá também cursos de especialização. No fundo, é o que se exige a um magistrado do MP ou a um juiz (licenciatura + curso do C.E.J.). O que é que essa função de «gestor de conteúdos» implica. Implica que, no mínimo, se domine algumas ferramentas informáticas, designadamente a ferramenta de backoffice do site que permite as actualizações, implica que se conheça bem a orgânica da Justiça e do Ministério, implica capacidade de sistematização, de organização, de planeamento, de selecção e de avaliação do que é pertinente e do que não é, implica sentido estético, implica capacidade de síntese e implica um bom domínio da Língua Portuguesa. O que já não é pouco, como se vê. Acresce que o site do Ministério é o primeiro «rosto» desse mesmo Ministério e, desde que «no ar», fica visível para todo o mundo, para milhões de pessoas através da Internet. Qualquer erro é, pois, potenciado, pelo que a selecção dos textos lá inseridos tem de ser criteriosa e sujeita a um «crivo» apertado de provas e contra-provas, metódicas, rigorosas, precisas. Actualizar o site do Ministério não é, pois, uma função menor, nem pouco qualificada, nem pode ser feita por qualquer pessoa, como Baptista Coelho quis fazer crer. Merece a pena dar aqui um exemplo de sentido contrário: tive recentemente acesso a um ofício do Ministério Público que reza assim «a presente notificação considera-se efectuada no 5º dia posterior ao seu depósito na caixa do correio do destinatário constante do subscrito [sic]». Sim, sim, «subscrito». É o que lá está. Nem sequer vou contestar a sintaxe. Embora menos graves, o próprio auto anexo também tem erros ortográficos e sintácticos, apesar de assinado por uma «digníssima» - o tratamento é meu, no ofício vem só «Digna», assim mesmo, com maiúscula e tudo: porém o Pólis ainda usa o superlativo – magistrada do Ministério Público. Erros que claramente não poderiam existir no site do Ministério…
Ah, e por favor, não nos venham dizer que são um «órgão de soberania» e lidam com «direitos, liberdades e garantias» e que isso é o «alfa» e o «ómega» do mundo e da sociedade. Então os médicos seriam os profissionais mais bem pagos porque lidam com a vida… E a vida é, como se sabe, o «bem supremo»… E os militares e os polícias também porque colocam em causa a sua integridade física e também a vida… Etc., etc. E todos eles ganham menos. Curiosamente, também, o facto de serem «órgãos de soberania» não parece conferir a estas classes mais responsabilidade, a julgar pelas recentes greves, mas apenas mais e sempre mais direitos…

26 de outubro de 2005

LEITURAS DA PÓLIS I - Onde se fala da Carris e dos atrasos

O Pólis&etc. esbarrou recentemente com um livrinho de contos de Etgar Keret, autor israelita, tido como uma das promessas da literatura israelita contemporânea. São pequenas estórias do quotidiano escritas num estilo simples mas escorreito. A provar que mesmo as mais pequenas banalidades do nosso dia-a-dia podem ter uma abordagem nova, irreverente e diferente. Tudo isto escrito numa escrita enxuta – deixem-me usar o pleonasmo – que se lê de um fôlego. A primeira estória, que dá o título ao livro, chama-se O motorista de autocarro que seria ser Deus. Uff. Feita a recensão. Não me consigo livrar deste estilo mais ou menos formal de escrita. Mas lá chegaremos. Haja esperança, pois. Vamos, então, ao que interessa. A tal estória! É que ela fez luz num mistério que há muito me perseguia. Ou seja, a razão por que os motoristas dos autocarros da Pólis muitas vezes se recusam a abrir a porta aos passageiros atrasados. O Pólis&etc. pensava que era por má vontade, às vezes mesmo por alguma maldade de alguns dos motoristas da Carris que assim geriam o seu pequeno poder de abrir e fechar as portas. Nada mais errado. O propósito é muito mais nobre e de pura aritmética. Afinal, um critério de racionalidade económica. O tal motorista do conto nunca abria as portas às pessoas atrasadas por «ideologia». Transcrevendo: «De acordo com esta ideologia, mesmo que a demora causada pela espera de um passageiro atrasado mal chegasse a meio minuto, e o passageiro que fica em terra perdesse por isso um quarto de hora da sua vida, continuava a ser mais justo para com a sociedade não lhe abrir a porta, porque esse meio minuto era perdido por cada um dos passageiros do autocarro. E, se houvesse no autocarro setenta pessoas que tinham chegado à paragem a tempo, perdiam em conjunto meia hora, que é o dobro de um quarto». Imbatível… Lá dizia o Padre Américo: «Não há rapazes maus», e muito menos motoristas de autocarros, acrescento eu…

24 de outubro de 2005

«Cirurgia jurídica» no caso de FF - doente encontra-se livre de perigo

Merece um pequeno reparo o post de ontem do Pólis&etc. É que afinal não faltava um «magistral rabisco» para a autorização das escutas no caso de Fátima Felgueiras (FF). A «coisa» era muito mais grave. Segundo a SIC, o magno problema que levou à anulação das escutas e por consequência da prova entretanto produzida foi o facto de as mesmas terem sido transcritas fora do prazo determinado pelo juiz. Ó grave falta! O Grande Educador do Povo da Pólis (GEPP) – fora da Pólis também conhecido por Expresso - afirmou como «altamente provável» que o Tribunal da Relação de Guimarães anulasse hoje as escutas telefónicas no caso do «saco azul» da Câmara de Felgueiras. E isso confirmou-se mesmo, a provar que o GEPP está atento e faz bem o TPC. O «cirurgião plástico» de FF - digo, advogado – apareceu seráfico na TV a «botar douta faladura», com muito jargão jurídico («prova material» e outras expressões do mais fino recorte jurídico) para «épater le bourgeois». A dita FF apareceu despudoradamente com os punhos erguidos e enlaçados cantando vitória. Ó vergonha, ó decência! Os doutos juízes de Guimarães – que não vimos - devem ter saído pela «porta dos fundos» com a consciência tranquila e achando que aplicaram a lei. Se a Justiça foi ou não feita, isso não interessa nada. Ó inteligência, ó bom senso. O Pólis&etc. lança aqui – à superior consideração do senhor ministro das Finanças - uma proposta que lhe permitirá poupar uns milhares de «aérios» (como se sabe a moeda da Pólis) às contas públicas. É que para aplicar a lei dessa maneira não precisávamos de magistrados, bastaria termos um PC e um software com o Código Penal, o Código do Processo Penal e outros correlativos. Metia-se o «porco» e saía o «chouriço». Além de se poupar nos vencimentos dos «pobres magistrados» que ganham mal, como se sabe (ver a propósito «Vencimentos dos juízes e procuradores por essa Europa fora» na Câmara Corporativa). O processo de FF vai assim voltar à «estaca zero». O «check-up» correu bem e a paciente está fora de perigo. A Justiça, que como já sabíamos é «cega», não só faz cada vez mais jus a essa sua qualidade como se apresenta em estado pré-comatoso, dada a falência geral dos diversos órgãos. Não se duvida que a lei foi cumprida hoje em Guimarães mas terá sido feita Justiça? E quando cada vez mais se aplica a lei mas não se faz Justiça, algo vai muito mal, meus senhores, na Justiça da Pólis...

P.S. - A imagem da Justiça que ilustra este texto encontra-se para venda por 40 reais no site brasileiro de leilões on-line: Mercado Livre… É possível que dentro em breve uma nova unidade proveniente de Portugal seja também colocada à venda… Atendendo à fraca qualidade da «peça», aconselha-se a «compra a peso» para fundição…

23 de outubro de 2005

«Check-up» no caso FF encontra «esqueleto atrás do armário»

Continua a «cirurgia jurídica» no caso de Fátima Felgueiras. O Grande Educador do Povo da Pólis, também conhecido por Expresso, dá esta semana como «altamente provável» que o Tribunal da Relação de Guimarães anule as escutas telefónicas no caso do «saco azul» da Câmara de Felgueiras. O pedido de nulidade foi apresentado por Artur Marques, «cirurgião plástico» - digo, advogado - de Fátima Felgueiras, pelos vistos pela falta de um «rabisco» de um dos digníssimos magistrados da Pólis na autorização das escutas. Amadorismo ou menor cuidado das autoridades de investigação criminal?! Talvez! A acontecer, o processo será corrigido e a prova baseada nas escutas será expurgada. Como os «sacos azuis» não deixam muitos rastos documentais, está-se mesmo a ver o que vai acontecer ao processo. Tenho um amigo que treme sempre que vai fazer um «check-up» médico. É porque – diz ele – naquelas «baterias» de análises e outros exames a que o sujeitam encontra-se sempre algo que não está bem. É claro que o «check-up» processual do «cirurgião plástico» - digo, advogado - de Fátima Felgueiras foi cuidadoso, metódico e profissional e – por isso – lá encontrou «o esqueleto atrás do armário». No entrementes, a Justiça – que tem fama de «cega», e cada vez mais proveito, dizemos nós – lá irá provavelmente anular a prova. Não se coloca em causa que a investigação tem e deve ser efectuada segundo as regras processuais e a falta do tal «rabisco» não é – como à primeira vista pode parecer – uma qualquer «bagatela» processual. É, pelo contrário, a «nossa» garantia de que existe um Estado de Direito. Porém, a complexidade da tessitura jurídico-processual da nossa Pólis não pode deixar margem de manobra a que nestes «check-up» se encontre algo esteja mal. Talvez seja, então, de rever e transformar aquela renda de bilros que é o nosso Processo Penal numa renda de ponto simples… dizemos nós, é claro...
Foto - Expresso on-line

20 de outubro de 2005

Deo gratias… «homens de honra» no SCP

A propósito da substituição ou não de José Peseiro, o Pólis&etc. escreveu, aqui, um post intitulado «Peseiro, substituição já começou», onde lançava algumas dúvidas sobre as declarações de Dias da Cunha. Afinal, o presidente do Sporting Clube da Pólis, nosso mui amado clube, demitiu-se hoje de todos os cargos no SCP. De onde se percebe claramente que o Pólis&etc. se enganou nos trocadilhos sobre «homens de honra» que por aqui fez. «A César [pois] o que é de César e a Deus o que é de Deus». O Pólis&etc. fica satisfeito por saber que, afinal, no seu clube, e designadamente na sua direcção, há «homens de honra». Dias da Cunha provou-o, hoje. Ainda bem que o Pólis&etc. se enganou… Deo gratiasDeo gratias… Viva o Sporting Clube da Pólis…

P.S. – O Deo gratias é para contrabalançar a um Quod erat demonstrandum… dito recentemente num dos blogues favoritos da Pólis… O Pólis&etc. só sabe, infelizmente, e recordando as palavras de um «velho mestre e amigo», o chamado Latim Latão... Mas tem pena... Até porque profissionalmente lhe seria muito útil...
Foto - Site do SCP

Caprinos lusos e estrangeiros – o estado da arte

Ora bem. Premissa de base: o Pólis&etc. – que não pertence ao clube que tem uma «roda de bicicleta» no seu símbolo e que, por isso, não quer ficar sempre com o dito veículo nas discussões – não cisma, nem teima quando não tem razão. Pelo contrário, dá a «mão à palmatória». Coisa que outros não fazem, mas esses são do tal clube… Nem sequer afirma «fim de conversa», que é democrático e reconhece sempre o direito ao «contraditório». Adiante...
Dito isto. E a propósito de uma discussão sobre caprinos, designadamente, sobre a diferença entre borregos e cabritos, numa história onde entram «bichos» de raça Suffolk, fontes doutoradas em Agronomia, etc., o Pólis&etc. fez algumas pesquisas – ainda por cima após umas horas de árduo trabalho profissional esta noite que até não o deixaram ver o jogo do FCP – para ver se descobria se tinha razão, se não tinha razão e/ou razão da confusão. Santa Paciência, esta a do Pólis&etc. – mas há outros com igual, é o que vale! Após algumas pesquisas sobre a «carneirada» de raça Suffolk, constata-se que os mesmos têm, além das patas – como é referido – a cabeça preta. Não conseguimos «apanhar» nenhum animal jovem. Apenas adultos, tais como o que aqui se reproduz, substancialmente diferente, aliás, do «animal» que se reproduz num dos blogues predilectos da Pólis, o Kronikas Tugas. Olhando detalhadamente para o «animal» hoje ali existente (mas que já esteve no post «Borregada»), constata-se a existência de patas escuras e de cabeça escura, admitindo-se, por isso, que o mesmo possa ser, como se assevera naquele blogue, um borrego da raça Suffolk. A julgar pelo que afirma o dito blogue, a imagem foi «caçada» num site inglês. Pode assim ser realmente um borrego de Suffolk. As raízes saloias do Pólis&etc., que quando miúdo muito conviveu – em férias e em fins-de-semana – com caprinos variados e designadamente com borregos e cabritos, levou-o a olhar exactamente para a cabeça e para as patas escuras do animal e associá-lo ao cabrito. Que também pode ser: as semelhanças são evidentes. Se isto fosse uma disputa jurídica dir-se-ia instalada uma «dúvida razoável». Porém, julgando verdadeira a pesquisa do Kronikas Tugas, que como se percebe muito penou para justificar o inicialmente injustificável, não há razão para duvidar que o «bicho» seja um Suffolk. O que eu tenho a certeza é que quando suscitei a questão, também aquele blogue ficou com dúvidas. As quais, aliás, suscitaram este comentário: «Há uma diferença entre o borrego e o cabrito, só que esta imagem deve ter sido tirada algures dum site inglês. E em inglês eles têm "Lamb", que é mais para o cabrito. Tenho que falar com o blogoberto». Esclarece-se, agora, que não senhor, «lamb» não é mais para o cabrito, é apenas mais para o cordeiro… Mesmo com um inglês muito deficiente, o Pólis&etc. conhece as ressonâncias bíblicas do «sacrifice of the lambs», viu o «The silent of the lambs», e tem camisolas de lambswool, pelo que está em condições de garantir que «lamb» não é mais para o cabrito, mas sim mais para o cordeiro…
Portanto, para concluir, e apesar da «dúvida razoável» que pode ser suscitada pela imagem, o Pólis&etc. acredita que o bicho seja um Suffolk e fica à espera que o
Kronikas Tugas reconheça que quando o Pólis&etc. suscitou a dúvida… – que aliás foi só a dúvida… que por aqui não se afirma muita coisa: o Pólis&etc. engana-se muitas vezes e tem muitas dúvidas… – também ele ficou com dúvidas… Era bonito, era pois…

17 de outubro de 2005

O tempo da crónica

A ler no último Jornal de Letras a coluna de Carlos Reis, denominada Trabalho de Casa, com um texto sobre a crónica como género literário. Respigam-se uns pedaços.
Citando um texto de João Pereira Coutinho no Expresso, no qual o autor enuncia as dez leis fundamentais da crónica, Carlos Reis aborda algumas:
«A crónica pode partir da realidade mas, não raras vezes, a crónica cria a sua própria
realidade»;
«A crónica deve entreter e, se possível, opinar»;
«A crónica vive da diversidade»
«A crónica não vive da especialização»
«A crónica é pessoal […]»
«[A crónica] é um prolongamento do ego»;
«A crónica deve ser tão fácil de ler como de esquecer»

E citando Eça:
«A crónica é como que a conversa íntima, indolente, desleixada, do jornal com os que o lêem: conta mil coisas, sem sistema, sem nexo; espalha-se livremente pela natureza, pela vida, pela literatura, pela cidade […] fala das festas, dos bailes, dos teatros, das modas, dos enfeites, fala em tudo, baixinho, com se faz ao serão, ao braseiro, ou ainda de verão, no campo, quando o ar está triste».
Afinal, o que é que tantas vezes se faz por aqui nos blogues da Pólis…

P.S. – Sobre o enquadramento dos blogues no mundo comunicacional de hoje, a ler com interesse o post de Luís Carmelo no Miniscente, em 11 de Outubro…

Sporting, e agora?

O «meu» Sporting perdeu novamente. Desta vez por 1-0, em casa, com a Académica. Há 40 anos que a Académica não ganhava em Alvalade... E agora? Agora, Peseiro vai demitir-se ou será demitido. Não tenho grandes dúvidas acerca disso. Mas isso acontece apenas porque a direcção foi publicamente vaiada por um estádio inteiro a gritar em uníssono um cântico obsceno. Irá imperar o «ou ele, ou nós» e entre a direcção e Peseiro, cairá o último. Porque senão cairá também a direcção, atingindo o próprio âmago do clube. A situação é má demais. E quando a situação atinge o intolerável, todos nós encetamos estratégias de negação da realidade ou tentamos encontrar culpados. E isto é tanto mais válido quanto falamos de uma área em que, para além da racionalidade das tácticas e das estratégias, reinam as emoções. A Psiquiatria explica bem isto. E tudo isto era desnecessário, pois todos já havíamos visto – para além do próprio e de uns poucos mais – que Peseiro não tinha condições para treinar a equipa. A contestação evoluiu assim de Peseiro para a direcção. E isto era evitável. Curiosamente chegou menos aos jogadores. E porquê? Se afinal são eles que estão em campo, que perdem e que ganham os jogos! Porque nesta crise, eles são, apesar de tudo e curiosamente, os menos culpados. A equipa esteve apática, abúlica, parada, mas esteve em campo individualmente com brio e com pundonor. A equipa não teve organização, nem soluções, mas os jogadores estiveram em campo com profissionalismo. Não falemos sequer em táctica ou estratégia, na opção peregrina de João Alves como lateral-direito, etc. Falemos apenas de perfil psicológico, de atitude e de capacidade de liderança. É isso que é necessário a um treinador do Sporting, sobretudo nestes momentos, e é isso que Peseiro não tem. E termina-se, como sempre, com um grande «Viva o Sporting Clube da Pólis».
Foto - Record on-line

16 de outubro de 2005

A «velha» Europa e o Estado de Direito

É incompreensível o modo como a nossa diplomacia e o nosso Presidente da República lidam com certos países. A velha e civilizada Europa acha-se moralmente superior aos demais. E vai daí trata (sobretudo) os países africanos e sul-americanos do alto dos seus pergaminhos. Esquecendo que é exactamente por ostentar esses pergaminhos, designadamente ser o berço da democracia e do Estado de Direito que deverá tratar os outros exactamente nos mesmos termos e do mesmo modo como gostaria de ser tratada. Vem isto a propósito da intercessão feita na recente Cimeira Ibero-Americana de Salamanca, por Jorge Sampaio, junto seu homólogo venezuelano, Hugo Chávez, pela libertação do piloto português, Luís Santos. Claro que levou, e bem, «sopa» e uma rotunda «nega». E bem poderíamos ser poupados e esta pequena «humilhação» pública. A mesma «sopa» e a mesma «nega» que Jorge Sampaio certamente daria a Hugo Chávez se se tratasse de um piloto venezuelano a aguardar julgamento entre nós. A independência dos poderes executivo e judicial é um dos fundamentos do Estado de Direito, de todos os Estados de Direito. Mesmo das democracias recentes como a venezuelana. Há que não esquecer que a Venezuela não é o Dubai...
P.S. - No entrementes, Luís Santos continua em prisão domiciliária há quase um ano. O julgamento já foi adiado mais de 20 vezes e ainda não passou da leitura da sentença. A juíza saiu do processo por razões pessoais. Não se sabe quando será nomeado um juiz substituto. Nada de muito diferente, pois, do que por cá se passa...
Foto - Site da PR

15 de outubro de 2005

Contra a corrente - O cão que mordeu o homem

«Para mim, o único grande vencedor socialista da noite de domingo foi Armindo Abreu, que em Amarante resistiu à investida do demagogo (é o minímo que se lhe pode chamar) Ferreira Torres. É um resultado que, pelo seu significado cívico, não deixaria de agradar a Teixeira de Pascoaes».
As palavras são de António Mega Ferreira, na Visão (n.º 658) desta semana.
Valem o que valem e têm de ser lidas à luz do seu «aggiornamento» político. Se se lhe tirasse a palavra socialista, a «coisa» até teria mais força e um outro significado. Sem qualquer dúvida.
Mas deixando isso. O que elas, porém, me lembraram foi a velha e estafada estória de ser notícia o «homem que mordeu o cão» e não ser notícia o «cão que mordeu o homem».
E, de facto, o que recordamos da noite eleitoral são as palavras de Ferreira Torres e não as de Armindo Abreu, do qual o Pólis&etc. nem se recorda sequer do rosto... Por isso aqui fica a cara do homem e bem assim o desejo de que, nos nossos «media», para o «bem geral da Nação», pelo menos ao lado do «homem que mordeu o cão» apareça também o «cão que mordeu o homem»... É que o Pólis&etc., no grande circo da Pólis, além dos palhaços, também gosta de ver os números sérios...
Foto - Site da Câmara Municipal de Amarante

14 de outubro de 2005

World Press Photo 2005 (CCB) - 2

O elemento estranho é a bola de basquete. Talvez devesse ser tudo o resto mas é a bola.
E se calhar aquele sorriso aberto. Etnocentrismo do Pólis&etc.? Talvez?
Decididamente continuamos a achar que há por aí muitos sinais de esperança para os homens da Pólis...

13 de outubro de 2005

World Press Photo 2005 (CCB) - 1

Só os olhos - A primeira reacção é de choque. Aquelas pernas inertes concentram-nos o olhar e não nos deixam ver nada para além delas...
Os olhos e o cérebro - Na segunda reacção observa-se o torso atlético e admira-se a geometria e a beleza plástica da foto...
Só o cérebro - À terceira é já só o cérebro a funcionar e não podemos deixar de ter uma enorme admiração pelo atleta - seguramente maior por este atleta - e pelo fotógrafo que captou o momento.
Ainda há sinais de esperanças para os homens da Pólis...

12 de outubro de 2005

Verão por decreto

Nesta época em que quase deixámos de ter Primavera e Outono para passarmos a ter apenas Verão e Inverno, em que as estações quase se colam e os dias de estio se prolongaram até meados da passada semana, a convidar à praia, o Pólis&etc., fã da dita praia, aproveitou até onde pôde este Verão estendido para Outubro. Então, no passado dia 2, rumou ao Meco, concretamente à zona sul da praia das Bicas, perto do parque de campismo do Meco. Uma reentrância de praia, bem abrigada de ventos, ideal para esta época do ano. Praia semi-selvagem, sem apoios de praia, sem rede de telemóvel, com pouquíssima gente, consegue-se aí alguma comunhão com a natureza. No final do dia, porém, ao desmontar a «tenda», procuram-se os sacos azuis de lixo?! E nada?! A Câmara Municipal de Sesimbra decretou oficialmente o final do Verão no que toca à recolha de lixo nas praias. Apesar de as mesmas continuarem a ser frequentadas. O Pólis&etc. ainda levou o saco do lixo até ao carro - uns bons 200 metros com uma subida íngreme pelo meio - mas houve quem o não fizesse… Ora a Câmara Municipal de Sesimbra devia olhar mais pela janela e para os termómetros e menos para o calendário das estações e deixar por lá os «saquinhos» azuis por mais uns tempos… A de Almada, por sua vez, que o Pólis&etc. foi para a Costa de Caparica, no feriado de 5 de Outubro – é que hoje já não resta ninguém para dar vivas à República junto da estátua de António José de Almeida – ainda lá mantém, e bem, os «saquinhos» azuis.
Pede-se, pois, deferimento… para este requerimento

Foto da Praia das Bicas (Meco) - Site Planeta Pesca

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11 de outubro de 2005

Capucho e a Fotobiografia

Ainda ecos das autárquicas. Chegou hoje às mãos do Pólis&etc. o livro António d’Orey Capucho – fotobiografia. O tal livro foi distribuído gratuitamente na semana passada pelas caixas de correio dos munícipes de Cascais. O tal livro foi redigido pelo filho e por outro familiar do fotobiografado. As fotografias são do fotobiografado e do arquivo da Câmara Municipal de Cascais. O tal livro tem um prefácio de Carlos Pimenta, correligionário do fotobiografado. Transcreve-se apenas a última frase que ilustra o tom geral: «Trabalhar com ele ao longo de 30 anos é uma dádiva». Ao estilo dos velhos livros da Anita, lá temos fotos que ilustram vários episódios da vida do fotobiografado: O casamento do Fotobiografado; O Fotobiografado de triciclo; O Fotobiografado na praia; O Fotobiografado com a irmã; O Fotobiografado na escola; O Fotobiografado no ténis; O Fotobiografado atleta; O Fotobiografado e o filho; Os filhos do Fotobiografado; O Fotobiografado e as irmãs; O Fotobiografado e os irmãos; O Fotobiografado e Jorge Miranda; O Fotobiografado e Sá Carneiro; O Fotobiografado e Balsemão; O Fotobiografado e Marcelo Rebelo de Sousa; O Fotobiografado e Cavaco Silva; O Fotobiografado e Miterrand; O Fotobiografado, Ministro dos Assuntos Parlamentares; O Fotobiografado e Mário Soares; O Fotobiografado e Ronald Reagan; O Fotobiografado e Giscard d’Estaing; O Fotobiografado e Simone Veil; O Fotobiografado Comendador; O Fotobiografado no Parlamento Europeu; O Fotobiografado e a Rainha Isabel II; O Fotobiografado e Perez de Cuellar; O Fotobiografado e D. José Policarpo; O Fotobiografado e Luís Figo; O Fotobiografado e Luís Filipe Scolari, etc. Ufa…
Conclusão: O fotobiografado tem um excelente arquivo fotográfico. A ordem dos episódios da Anita, perdão, da vida do Fotobiografado, é a do livro. No capítulo I, a Vida Pessoal; no capítulo II, a Vida Política antes de Cascais; no capítulo III, a Vida Política em Cascais. Regista-se o alinhamento conservador: primeiro o «pessoal político» nacional, depois o «pessoal político» internacional, para o fim a Igreja e o Desporto. Não sei se neste último caso, o livro cairá nas boas graças de Deus, com o Cardeal-Patriarca a aparecer na antepenúltima posição, imediatamente antes de Figo e de Scolari. Mas, não será pecado mortal, nem sequer venial, pois como se sabe, desde S. Mateus, «os últimos serão os primeiros». O pobre - não no sentido franciscano do termo - do seleccionador nacional aparece, aliás, na última página… Espera-se que não seja um mau prenúncio para o Mundial da Alemanha… Porém se se confirmar a máxima de S. Mateus atrás referida seria uma boa nova. O alinhamento é à Telejornal da 1, mas dos tempos do monopólio público… Parece que na altura a «coisa» se chamava Noticiário, o que era «kitsh», daí a mudança… Assim evolui a linguagem…
O tal livro é de grande formato e impresso em bom papel. O tal livro, curiosamente, não tem ficha técnica. O tal livro não tem depósito-legal, nem ISBN (para quem não sabe é o BI dos livros), nem copyright, nem tiragem. Mas devia. O tal livro está fora da lei. O Pólis&etc. presume, naturalmente, que o tal livro seja uma edição de autor e, por isso, inteiramente custeada pelo Fotobiografado… O Pólis&etc. regista também a oportunidade da distribuição do livro de Narciso, perdão, do Fotobiografado, que naturalmente provém do desejo profundo dos munícipes de Cascais em conhecerem a fotobiografia do seu presidente. Uma parceria público-privado com a Hola ou revista afim também faria as vezes… Fica a sugestão para outros futuros fotobiografados daqui a quatro anos. O Pólis&etc. agradece ainda à mão amiga que lhe passou esta informação, que aliás também lhe queria oferecer o livro. Mas o Pólis&etc. declinou a oferta, porém apenas porque já tem pouco espaço para «papel» cá em casa e também porque não costuma guardar a propaganda eleitoral, mesmo aquela que na aparência não o é… São as fotobiografias da Pólis…

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10 de outubro de 2005

As vitórias dos candidatos arguidos: as minhas razões

Tem sido muito debatida na blogosfera, e não só, a questão da vitória de 3 dos 4 candidatos arguidos, respectivamente, Fátima Felgueiras, em Felgueiras, Valentim Loureiro, em Gondomar, e Isaltino de Morais, em Oeiras. Fica de fora, por ter saído derrotado, Avelino Ferreira Torres, em Amarante. Todos eles eram arguidos por crimes praticados no desempenho do cargo para que foram eleitos. O mais importante dos quais – pelo tipo de acusação e pelo estado a que a mesma chegou, com a emissão de um mandado de captura visando a prisão preventiva – ou seja Fátima Felgueiras, ganhou mesmo com uma percentagem esmagadora. Será que as pessoas são tolas? Será que foi a vitória do populismo, do caciquismo e da manipulação? Sinceramente penso que não. Não, porque as pessoas não são assim tão manipuláveis. Não, porque houve vitórias para todos os gostos: mais urbanas – caso de Isaltino de Morais – ou mais interiores – caso de Fátima Felgueiras. Não tem, pois, também a ver com o estrato social ou sócio-cultural do eleitorado que os elegeu. É certo que alguns desses eleitores andam com a imagem da sua «santinha da ladeira», da sua «pequena Evita» (felgueirenses) mas outros não, porventura decidindo o seu voto de uma forma mais informada e estruturada (oeirenses). Claro que para este fenómeno convergem explicações de todo o tipo. Com mais ou menos cabimento. Até já vi um sociólogo de um qualquer centro ou observatório do poder autárquico da Universidade de Coimbra apresentar Fátima Felgueiras como «A Salvadora», fazendo leituras transcendentais com o nome de «Fátima», com a metáfora da «mãe», etc., etc. Mas, então, como explicar, no outro extremo, o fenómeno Isaltino. Bom, tenho para mim que isso tem a ver sobretudo com a natureza dos crimes de que são acusados, os chamados crimes económicos ou crimes de «colarinho branco». A valoração, em termos de ilicitude, desse tipo de crimes, é socialmente muito baixa. Aceitar umas «luvas» para deixar passar um projecto imobiliário ou alterar o PDM, fugir ao fisco através de umas contas no estrangeiro, usar indevidamente ou menos regularmente os dinheiros públicos, violando regras administrativas, são crimes cuja sanção social é baixíssima. E isto porque todos nós já o fizemos e fazemos, quanto mais não seja ao mentirmos na siza da casa ou ao pactuarmos com a prestação de serviços da oficina ou do canalizador sem a correspondente factura. Crime para nós é o roubo do fio por esticão, o roubo da carteira no autocarro, o roubo do auto-rádio e do telemóvel, o roubo do relógio ou da roupa de marca à saída da escola. Aceitar um serviço sem factura, lesando o Estado; declarar um valor mais baixo nas transacções de imóveis, isso não é crime. E é aqui a meu ver que se radica a razão última da vitória destes fenómenos…
Só nas próximas gerações, quando as ensinarmos a perceber que são os impostos que nos permitem ter escolas, hospitais, estradas, tribunais, polícia, exército, monumentos, e tudo o que uma sociedade organizada deve ter… Que eles são uma obrigação de todos nós para assim atingirmos o bem comum. Que eles são o sustentáculo de uma sociedade organizada... Só aí conseguiremos inverter este estado de coisas… Neste momento e neste particular ainda estamos demasiado perto de África ou da América Latina… Se colocarmos a mão bem fundo na nossa consciência, neste voto dos candidatos arguidos está um pouco de todos nós…
Imagem - Site do STAPE

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9 de outubro de 2005

Razões de um voto

«No próximo domingo, vou levantar-me e cumprir a minha rotina matinal. Depois, hei-de vestir-me com fingida causalidade, como se votar não fosse (para mim, continua a ser) um ritual investido de uma solenidade profunda e autêntica, e irei depositar o meu voto num candidato que não me entusiasma, para evitar que outro, de que não gosto, continue a fingor que governa esta desgovernada cidade de Lisboa. Chamem-lhe «sentimento de pertença» (a uma família, a uma cumplicidade, a uma ideia), que é mais forte que tudo o que a razão nos aconselha.»
António Mega Ferreira, Visão, de 6-10-2005

Curiosas e contraditórias são as razões profundas que nos levam a votar em determinado sentido. A todos nós. Mesmo aos nossos melhores, às nossas elites. Muitas delas são do domínio do intangível, dos afectos, das emoções, como este sentimento de «pertença a uma família». A provar que no sentir profundo da nossa dimensão política todos nos aproximamos e nesta vivência «clubística» do voto a razão por vezes manda mesmo muito pouco. Confesso que tenho pouco deste espírito e tenho pena. Pena de ser tão céptico e tão incréu...

Imagem - Site Lisboa Antiga, design e concepção de Pedro Barroca

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8 de outubro de 2005

A «arruada» da campanha

A campanha eleitoral autárquica afinal sempre nos trouxe uma boa novidade. Uma palavra nova que de um momento para o outro entrou no vocabulário da Pólis. Trata-se da palavra «arruada» que o Pólis&etc. não conhecia. De repente, a dita «arruada» aparece repetida até à exaustão em todas as televisões. Assim é o mimetismo dos meios de comunicação social dos dias de hoje. Um diz e os outros copiam. Mesmo que não saibam muito bem o que é. Adiante. Interessa é alinhar com a moda. E acharam graça à palavra. Lá vai o Pólis&etc. aos dicionários para ver o significado da «coisa». Após várias consultas – não vale a pena o Pólis&etc. alardear aqui a sua erudição; há dicionários com fartura cá em casa, caramba, sobretudo para compensar a falta dela – leva a palma, como sempre, pela quantidade de vocábulos, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado. «Arruada» existe, sim senhor, mas como substantivo masculino: «arruado». E lá temos uma «composição musical tocada por uma banda, enquanto percorre as ruas da cidade», talvez aquilo que é mais próximo do que se pretende. Claro que neste ponto, o Pólis&etc. descobre uma miríade de palavras com a mesma raiz que aliás assentam que nem uma luva a muito do que se passou hoje, último dia da campanha autárquica. Um «arruador» é assim um «picão, valentão, que passeia e corre as ruas fazendo mal; desordeiro, galanteador, atrevido». Claro que o que o «arruador» faz é «arruar». Verbo prenhe de significados: «passear frequentemente por, para requestar vadiamente»; «andar a passear pelas ruas com ostentação, a pé ou a cavalo» (admitimos aqui que JPMachado, que infelizmente já não está entre nós, precisasse de actualizar os meios de locomoção do «arruador»); vadiar (pois, eu hoje de facto estava a trabalhar enquanto decorriam as «arruadas»). Mas isto é o «arruador». E como a linguagem é eminentemente masculina. Eis senão quando descobrimos que uma «arruadeira» é uma «mulher que anda muito pelas ruas; mulher andeja; rameira, ambulatriz». Assim é a Língua Portuguesa, apesar de feminina, pouco feminista. O Pólis&etc. tira o chapéu com vénia longa a Jerónimo de Sousa que lançou esta palavra e a aplicou com propriedade e com vénia curta aos jornalistas que a repetiram acriticamente, como aliás acontece muitas vezes, já que em algumas «arruadas» de hoje não vimos nem sombra de banda ou de música, a menos que fosse a dos candidatos… E, já agora, lança também aqui o desafio a uma boa amiga, que por acaso até dá formação a alguns dos jornalistas da Pólis e até lê este blogue – ao menos às vezes e ao deitar: atenção que substitui com vantagem o Lorenin e não causa habituação – para deslindar melhor esta «coisa» da «arruada», com mais sapiência do que o Pólis&etc. que nestas coisas da Língua Portuguesa toca de ouvido…
Ah, e já agora, mais um significado de «arruar»: «soltarem os animais desgarrados da manada (principalmente os touros) certos mugidos de insatisfação»… Este ficou para último mas só por esquecimento…
Imagem - Priberam

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6 de outubro de 2005

«Remédios» - do monopólio ao oligopólio

Ainda sobre os medicamentos e na mesma notícia do Expresso, Grande Educador do Povo da Pólis ou GEPP, se nota que o dito João Cordeiro, presidente da Associação Nacional das Farmácias da Pólis, já percebeu a mudança do vento, também no que respeita à a questão da propriedade das farmácias, sem dúvida um dos mais cretinos monopólios que se conhecem e um dos últimos resquícios do corporativismo. Totalmente em contra-ciclo com os tempos de hoje em que tal não se justifica. Nessa área tudo é, hoje, asséptico. Findos os velhos boticários que manipulavam, entre balanças, potes e medidas, compostos e substâncias, hoje os medicamentos são pré-fabricados. Têm bula. Há quem lhe chame «literatura», embora à vista desta expressão o Pólis&etc. fique com um pouco de urticária… Ou então são «aviados» com receita médica onde também vem devidamente descrita a prescrição. Parte do povo da Pólis já tem um mínimo de informação médica que lhe permite distinguir os «remédios». O Pólis&etc. pede naturalmente licença ao Dr. Paulo Portas - a única pessoa em Portugal com menos de 65 anos a utilizar essa expressão - para também a usar. Parte do povo da Pólis já sabe o que é um anti-inflamatório, um anti-pirético ou um antibiótico. O povo da Pólis sabe que nas farmácias, as mais das vezes, não é atendido por um farmacêutico e mesmo quando é, isso não lhe traz nenhuma mais-valia significativa. João Cordeiro também sabe isto. Sabe também que estes dias estão a acabar. E vai daí já disse que quer criar uma empresa que seja a maior rede de farmácias do país… Está feito, substitui-se um monopólio por um oligopólio. Nem mais. São os negócios da Pólis…
Imagem - Museu da Farmácia

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O(A) «clique» das Farmácias – entradas de leão e saídas de Cordeiro

Realmente o Expresso, cuja leitura dura uma semana, impõe-se como o grande alfobre de materiais para o Pólis&etc. Atenção que esta frase é para ser lida como um elogio ao Grande Educador do Povo da Pólis. Caramba, não é só bater no dito. E embora não pareça, o Pólis&etc. garante também que lê outros jornais... Cá vai mais uma, pois, ainda da edição da semana passada. Desta feita, na berlinda está o Grande Lobby da Pólis - ou um pelo menos um dos. Não, não falo do lobby Gay, nem da Maçonaria, nem do Opus Dei (a ordem é rigorosamente alfabética). É que nesta «coisa» de lobbys, como aliás noutras, o Pólis&etc. é um não-alinhado. Falo do lobby dos medicamentos e da todo-poderosa Associação Nacional de Farmácias, liderada por essa figura um pouco melíflua de nome João Cordeiro. Mas sem dúvida um dos grandes exemplos da Real Politik dos lobbys da Pólis. Senão vejamos. Depois de vários anos a clamar pela defesa dos doentes, pela necessidade ingente de terem o indispensável aconselhamento de um farmacêutico sempre que vão comprar medicamentos e contra a proibição de venda dos medicamentos não sujeitos a prescrição médica nos hiper e supermercados, por não existir esse aconselhamento. Eis que o Grande Educador do Povo da Pólis nos revela que o dito João Cordeiro tem já um acordo com a Jerónimo Martins para a venda deste tipo de medicamentos na cadeia de supermercados Biedronka, na Polónia. Mas, a coisa não fica por aqui. Então não é que o homem diz despudoradamente que aquilo na Polónia é experimental e que por cá é que vai ser a sério. E não satisfeito ainda afirma: «Estou convencido de que no final da legislatura vamos ser obrigados a agradecer ao Eng.º Sócrates o discurso da sua tomada de posse. Foi o clique que nos fez repensar as nossas estratégias, estávamos demasiado limitados e foi um discurso libertador». É o que se chama entradas de leão e saídas de Cordeiro… Espera-se também que o(a) clique do(a)s farmacêutico(a)s não seja semelhante ao do Manara, pois se for o Pólis&etc. já sabe – mas não revela - em que farmácia se vai postar…
São os cliques dos lobbys da Pólis…
Imagem - Amazon

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4 de outubro de 2005

Eclipse e Zombies

Nas civilizações urbanas dos dias de hoje já quase nos esquecemos da Natureza, da sua beleza e da grandeza dos seus fenómenos. Apesar da vertigem do quotidiano nas cidades, há ainda quem pare, nem que seja por uns minutos, por uns segundos, para olhar os seus fenómenos. Foi, por isso, curioso, ver surgir, ontem, nas ruas, nas janelas, nos autocarros da Pólis, algumas pessoas que, com óculos de observação solar de cartão, em tudo ridículos, olhavam o eclipse anelar do Sol… Zombies, porém, sem óculos e por isso não ridículos, passavam indiferentes… Há quem já tenha morrido para a vida e não saiba… Marcamos encontro com o próximo eclipse, dentro de 28 anos, aqui na Pólis…

Foto - José Gusman, para o Público

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Peseiro, substituição já começou

Dias Cunha afirmou hoje, cometendo uma «inconfidência», que José Peseiro é um «homem de honra» e que se sair do Sporting prescinde de qualquer indemnização, recebendo apenas até ao último dia em que trabalhar. Aproveitando a boleia da expressão, cada vez menos ouvida nos dias que correm, mas em boa hora trazida ao nosso convívio por Dias da Cunha, o Pólis&etc. acha que, entre «homens de honra», «inconfidências» destas não se cometem. O Pólis&etc. afirmou aqui, depois da eliminação do Sporting pelo Halmstads, que José Peseiro era um treinador bem intencionado. Além de bem intencionado, Peseiro é um homem honesto. Poderá a tal «inconfidência» ser – tal como Peseiro – bem intencionada e servir como «balão de oxigénio» para reforçar a posição do técnico junto dos adeptos, aplacando as iras. Talvez… Há que acreditar nos homens e sobretudo nos «homens de honra»… Mas conhecendo alguma coisa da «tribo do futebol», muito bem caracterizada por Desmond Morris, o Pólis&etc. acha que não… O Pólis&etc. não pode deixar de pensar que a substituição de José Peseiro já começou…
Imagem - A Bola on-line

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3 de outubro de 2005

Música em Mafra: 1 espectáculo, 2 plateias

No passado sábado, o Pólis&etc. assistiu ao concerto inaugural do IX Festival Internacional de Música de Mafra. Excelente ambiente. Concerto no magnífico cenário da Biblioteca do Palácio/Convento, à noite. Ouviu-se música do século XVII, de mulheres compositoras, daí que o concerto se chamasse: Il Concerto delle Dame. O Pólis&etc., pouco ou nada conhecedor de música e até mesmo algo «duro de ouvido», desconhecia em absoluto a existência, na época barroca, de música composta no feminino. Eram quase todas filhas de cantores, de compositores ou de libretistas do tempo. Uma delas freira. O concerto teve duas partes: na primeira, ouviu-se música sacra, na metade sacra da biblioteca, portanto ladeados de livros de temática religiosa; na segunda, ouviu-se música mundana, rodeados de livros de temática laica. Um concerto com duas plateias. Os ouvintes, embora numerosos, respeitaram, da primeira para a segunda parte, rigorosamente a ordem por que estiveram sentados. Excelente exercício de disciplina e notável capacidade de organização espontânea do público presente... Se fosse ensaiado não sairia melhor... A soprano, Maria Cristina Kieher – não exuberante, mas segura - esteve muito bem e o organista, cravista e director, Jean-Marc Aymes, atingiu a excelência interpretativa. Um espectáculo a provar que ainda é possível ousar e recriar neste tipo de eventos… Um gosto para os sentidos, mesmo dos «duros de ouvido» da Pólis...
Imagem - Programa do Festival

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Peseiro, depois do crédito, aplicações mal feitas

Mais uma derrota do Sporting, desta vez por 3-0, frente ao Paços de Ferreira. Há uma clara falta de confiança da equipa. Há falta liderança dentro e fora do campo. A sensação que se tem é que com alguém a organizar o jogo lá dentro e com alguém lúcido e sereno cá fora, a equipa se reencontra. Infelizmente, para o Sporting, nem uma nem outra se verificam, hoje. Não há um organizador de jogo no meio campo do Sporting, desde a saída de Rochemback – lembram-se da quebra de rendimento da equipa no ano passado quando ele esteve lesionado – que juntamente com Custódio, à frente da defesa, organizem o processo defesa-ataque. E isso notou-se uma vez mais.
Quanto à liderança fora do campo. Bom, essa, manifestamente não existe. Depois do «crédito» de José Peseiro, temos agora «aplicações financeiras mal feitas». Numa equipa vinda de uma derrota humilhante e a «caminhar sobre brasas», José Peseiro mais uma vez «inventa». Coloca o central Polga a lateral-esquerdo. Inacreditável. Polga andou a «nadar» no lugar durante toda a primeira parte, nunca acertou com a posição, o Sporting sofreu o segundo golo por esse flanco e as ofensivas do Paços de Ferreira por esse lado fizeram razia. Acresce que à frente de Polga estava Douala que não é um jogador de marcação. Conclusão, o flanco esquerdo abriu. E Peseiro, com esta adaptação disparatada, ainda corre o risco de «queimar» um jogador como Polga. No meio campo, também inventou. Deixou de fora Wender que, com Douala, podia abrir as alas, uma boa solução dada a ausência do tal organizador de jogo a meio-campo. Só na segunda parte corrigiu estas situações com a entrada de Paíto para o lado esquerdo da defesa e de Wender para o meio-campo. A equipa melhorou e teve 15 minutos de futebol ligado e agradável, com algumas oportunidades que não concretizou. Mas já era tarde. O esquema táctico, quase um 4-2-4, era de risco para a defesa que acabou naturalmente castigada com vários «amarelos» e um «vermelho» para Miguel Garcia e com mais um golo em lance de contra-ataque nos últimos segundos do tempo de compensação. Mas não havia outra hipótese face ao resultado.
O Pólis&etc. termina com o velho estribilho com que acabou o post Crédito Peseiro, esgotado o plafond: Espera-se que isto não seja o princípio do fim de uma época que ainda agora começou...
E sempre, mas sempre, diz:
Viva o Sporting Clube da Pólis.
Imagem (logotipo animado) - Site do SCP

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2 de outubro de 2005

Até já TMN, até logo ética na publicidade

Ao olhar as bancas de jornais, na passada quarta-feira, fui surpreendido por um fundo azul celeste em grande parte das capas dos jornais da Pólis. Estranhei e interroguei-me sobre qual seria a comemoração. O Público trazia um extenso dossier sobre a Justiça, mas a cor da dita não se assemelha, nem de perto nem de longe, a essa cor, como aliás já se tem falado por aqui. Não podia ser. Num segundo e mais atento olhar descobrem-se dois «T» nos cabeçalhos e a indicação «TMN até já». Esclarecido o mistério.

A TMN tem um novo logótipo e decidiu efectuar uma campanha maciça para a promoção da marca. Até aqui tudo bem.

Os autores da campanha – publicitários, especialistas em marketing, designers - têm aquela ideia genial de cobrir as capas de azul celeste. Até aqui tudo bem, também.

Os jornais aceitam publicar aquilo. Aí tudo mal.

Confundir publicidade com notícias ou notícias com publicidade ou embrulhá-las no meio, tipo entremeada, como parece ser o caso, não fica bem e não é eticamente correcto. Além de confundir e defraudar os leitores. Ética na publicidade: será que ainda existe? Por onde anda o ICAP – Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade e os outros organismos de regulação da Pólis…

Até já TMN, até logo ética na publicidade...

Imagem - Site da TMN

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