31 de julho de 2007

O requinte da mulher portuguesa, segundo JGF

Não vou a banhos, sem antes deixar aqui este trecho que cacei num livro que ando a ler, recordando alguns comentários a postes anteriores. Chamei-lhe O requinte da mulher portuguesa, segundo José Gomes Ferreira:
«Releitura de uma biografia de Liszt... Amores com a condessa d'Agoult, a princesa de Wittegenstein, etc.
Que diferença entre a vida mundana dos artistas românticos europeus e os pobres românticos da nossa triste terra de broa e botequins!
Em Portugal só Garrett se guindou às alturas da Alta Burguesia, transformada em Aristocracia (e mesmo assim através das doçuras vaginais de algumas estrangeiras complacentes...). As titulares portuguesas (com a excepção teórica da marquesa de Alorna) preferiram sempre os palafreneiros...
... e em Arte, o faduncho - a cheirar a cavalariça e urina de touros...»
José Gomes Ferreira - Dias Comuns I. Passos efémeros - Diário. Lisboa: Dom Quixote, 1990, p. 126

30 de julho de 2007

A banhos

O Pólis&etc. vai a banhos durante 15 dias. Na verdade, as férias começaram hoje e prolongam-se até ao dia 19, mas de 1 a 15 é que são mesmo férias, longe de casa, do PC e da net. Se não resistir, é possível que ainda dê uma espreitadela, pelo menos ao mail, num PC perto de si, mas nada de blogues. Letras impressas, por estes dias, só em papel...
Boas férias aos que estiverem de férias. Nós voltamos a ver-nos em meados de Agosto.

27 de julho de 2007

Promessas e objectivos

Ontem, na entrevista na SIC com o Primeiro-Ministro, ficámos a saber que uma coisa são promessas e outra são objectivos. As promessas são para cumprir. Quando o são: veja-se o que se passou com o aumento de impostos. Os objectivos podem não ser. Assim, a criação de 150 000 postos de trabalho era um objectivo, não era uma promessa. De onde, pode não ser cumprido. O facto de terem sido criados, até à data, cerca de 40 000 novos postos de trabalho e não os 150 000, não tem problema nenhum, porque não se tratava de uma promessa mas sim de um objectivo.
Façamos agora aqui duas analogias:
1.ª Os funcionários públicos são, desde há alguns anos, avaliados por objectivos que ou cumprem e têm Bom, ou excedem e têm Muito Bom ou excedem claramente e têm Excelente. Se não cumprem, não atingem, terão Necessita de Desenvolvimento. E o Governo quer legislar no sentido de que, não cumprindo os objectivos em dois anos consecutivos, possa haver lugar a despedimento com justa causa.
2.ª Sendo hoje as empresas - mal ou bem - um paradigma para o Estado, o que é que acontece quando os gestores das empresas não cumprem os objectivos?!?!?!
Exacto!

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24 de julho de 2007

Queirosiano desembargador?!?!

Tenho assistido nas páginas da Visão à polémica pública entre o escritor e cronista Manuel António Pina (MAP) e o juiz Eurico Reis (ER). Aquilo começou tudo por um escrito de MAP onde apodava ER de «queirosiano desembargador». ER sentiu-se insultado e pediu esclarecimentos. MAP não deu grandes esclarecimentos e ainda apontou – ó que heresia – um erro de Português a ER. A polémica não tem, quanto a mim, qualquer razão de ser. Primeiro, a expressão de MAP metida numa crónica é lícita. É uma caracterização, caricatural é certo, mas que não carece, a meu ver, sequer de nenhum esclarecimento. Ainda por cima parece-me ser sobretudo física. Recordo-me de ler em Eça a expressão «desembargador apopléctico» e «desembargador de figura apopléctica» e referências a desembargadores associados a lautas comezainas. Se for isto, como parece, basta olhar para o desembargador para logo constatarmos que a imagem encaixa. Tudo espremido, quando muito ficará provado que MAP chamou obeso a ER. Mas mesmo que fosse mais do que isso, ER tem de perceber que se anda na televisão e nos jornais a comentar está sujeito a isto. É que aqui está sem a beca! Mas ele não o percebeu. E agora vem a público dizer que vai processar MAP. Com isto presta um muito mau serviço à causa da Justiça, por fazer o que faz – é óbvio que aquilo nunca resultará em nenhuma condenação e ele sabe-o - e sobretudo nos moldes em que o faz. Se quiserem leiam o texto integral clicando duas vezes na imagem. Por mim, respigo as passagens que considero mais significativas de uma atitude deplorável:
«Por isso mesmo, irá, a mal ou a bem, aprender que o sistema judiciário não é tão simples ou 'simplório' como alguns lhe terão dito que era».
«O último a rir é o que ri melhor»
«Do articulista não recebo lições nem de português. Muito menos de cidadania».
Um aparte final para dizer que acho que MAP até teve muita sorte em não dizer o «camiliano desembargador». É que, tanto quanto me lembro, Camilo, numa obra de que não posso precisar o título e que cito de memória, disse, a propósito de uma personagem, qualquer coisa como: «tinha a estupidez de um desembargador»... Já se vê que se isso acontecesse, seria a desgraça completa e estaríamos a falar de uma indemnização colossal por danos morais ou o que fosse...

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23 de julho de 2007

Lê o quê? (Fotos da Pólis IV)

Esta foto era para ser colocada no poste anterior. Porque a leitora, que deveria ter aí uns 8 ou 9 anos, lia o último livro da saga Harry Potter. Acabou, porém, resgatada à triste sina de apenas ilustrar um poste. E merece-o. Porque ela lê, porque lê como se deve ler, ou seja com toda a descontracção do mundo, porque eu gostava de ter feito o mesmo e não fiz - designadamente tirar os sapatos -, porque foi uma lufada de ar fresco na minha tarde de ontem, porque não esperava encontrar um tal quadro naquele sítio inóspito...
Lisboa, Centro Comercial Colombo, 21-07-2007
Foto - Pólis&etc.

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21 de julho de 2007

O Harry Potter, os pastéis de Belém e o segredo de justiça…

Foi ontem à meia-noite que saiu o novo livro da saga de Harry Potter (confesso que não sou apreciador). Parece que morrem duas personagens, o que tem suscitado a curiosidade dos paparazzi literários um pouco por todo o lado. O lançamento foi feito em simultâneo em todo o mundo, inclusive entre nós, na FNAC. Imagine-se, pois, a quantidade imensa de pessoas envolvidas numa operação como esta. E o que se sabe é que nada transpirou e há milhões de exemplares impressos.
Ora como também se sabe, o Procurador-Geral (PGR) desta nossa Pólis
declarou, pouco depois de tomar posse, que não havia nada a fazer para erradicar a violação do segredo de Justiça e que este seria sempre violado. Imagine-se uma empresa com uns quantos problemas graves e sobre um deles o presidente do conselho de administração recém-nomeado diz que não há nada a fazer! O que fariam os accionistas?!
Pessoalmente, sugiro que seja constituída de imediato uma comissão, integrando o PGR e outros altos agentes da Justiça da Pólis, para estudar, junto da editora Bloomsbury, que publica o Harry Potter, o modo como decorreu toda esta operação. Creio que não lhes será difícil aprender alguma coisa para melhorar
o actual estado de coisas em matéria de segredo de Justiça. E, se não houver dinheiro para tal, podem pelo menos contactar a Confeitaria dos Pastéis de Belém - ficam hospedados logo ali ao lado, no Palácio - e aprendem como aquela famosa casa tem conseguido, desde tempos imemoriais, manter, sem fugas, o segredo da receita...
Nota - E a foto, fomos buscá-la
aqui.

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16 de julho de 2007

Radares a p&b

Na madrugada de sexta-feira para sábado. Deveriam ser perto das 3 da manhã, passei de carro no Campo Grande. Num raio de 100 metros para norte e para sul, devia ser o único utente da via. Ao passar pelo radar do Campo Grande, sinto atrás de mim um clarão. O flash deve ter disparado e o carro ficado na fotografia. Olhei para o conta-quilómetros. Marcava menos de 60Km. O sistema está programado para 50Km de velocidade máxima, independentemente do trânsito, independentemente das condições da via: por exemplo, se está a chover. Ora, a velocidade a que ia era mais do que razoável para aquelas condições específicas. Atrevo-me a dizer até que se calhar era baixa. Por acaso, o sistema só hoje entrou oficialmente em funcionamento e assim me livrei da multa e da possível contra-ordenação que, aliás, seriam as primeiras. Se o rigor for aquele, serão dezenas de milhares de automobilistas multados e nem todos bem. Será uma espécie de novo imposto municipal, sob a capa da segurança rodoviária. Pergunto-me se não seria mais razoável ajustar a velocidade máxima do painel luminoso às condições da via. Àquela hora da madrugada, com aquele trânsito e com tempo seco, 60Km são mais do que razoáveis e, no outro extremo, com grande congestionamento de tráfego e a chover, 50Km até podem ser demais. Mais uma vez, também aqui, temos uma situação a preto e branco. Infelizmente, o arco-íris tem mais do que essas duas cores...

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15 de julho de 2007

O riso e o vómito

Sede do PS em noites eleitorais no Hotel Altis. Numa das primeiras ligações das televisões da Pólis, o repórter José Manuel Mestre percorre a sala para pequenas entrevistas às pessoas anónimas aí presentes. São várias, mas nem uma de Lisboa! É gente arrebanhada nos locais mais recônditos da Pólis e que o aparelho local do PS trouxe a ver Lisboa e para fazer número nas manifestações de apoio ao candidato vencedor. Uma delas nem sabia ao que vinha. Disseram-lhe só que vinha a Lisboa. Retenho os nomes de duas localidades: Teixoso, Freixo-de-Espada-à-Cinta… Cá em casa houve risos… Alinho num riso superficial, mas lá no fundo enoja-me este tipo de manobras, por tão primárias… E se em eleições nacionais, isso se disfarça, em eleições autárquicas intercalares, não há disfarce possível… É também nestes pequenos pormenores que se vê a qualidade da nossa democracia… Um vómito...

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Legitimidade moral ou jurídico-formal

As eleições intercalares autárquicas da capital da Pólis terminaram. A abstenção foi, à hora em que escrevo, de 60%, um pouco menos ou um pouco mais. Foram portanto a votos menos de metade dos eleitores inscritos. Pergunto-me qual a representatividade moral do próximo executivo camarário?! Não da representatividade jurídico-formal, essa tem-na toda. Mal vai a democracia quando caminha para quóruns de representatividade de colectividade de bairro. Já vi alguns justificar a abstenção pelo período de férias. Atente-se até que o tempo esteve péssimo e não deu para a praia. E pelas férias. São explicações fáceis, demasiado fáceis para justificar mais de 60% de ausências! E eu passei, no final da tarde, e pela primeira vez, conscientemente pela porta de uma assembleia de votos sem votar, não sem alguma tristeza, e segui em frente rumo ao café acompanhado por uns jornais e revistas com que me mantenho informado sobre a vida da Pólis, daquela Pólis em cujos representantes não fui votar…

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14 de julho de 2007

A escrita e o «proletariado»

A escrita é um espelho de quem escreve e denuncia tanta coisa: a instrução, a formação, a educação, o carácter, até a idade...
Porém, a vantagem de quem escreve na net, sob pseudónimo, é poder ser, nalguns aspectos, quem quiser ser e, por exemplo, ter aqui, mas só aqui, a idade que quiser... Contudo, há expressões, cujo uso, porque tão datado, inequivocamente nos denunciam:

«No ano 2000, o termo “classe operária” tinha caído em desuso nos Estados Unidos e a palavra “proletariado” estava de tal modo obsoleta que só um punhado de velhos marxistas azedos com cabelos a despontar das orelhas a conhecia».
Tom Wolfe – «Como era a vida no virar do segundo milénio: um mundo de americanos». In Hooking up: um mundo americano. Lisboa: Dom Quixote, 2000, p. 11.

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11 de julho de 2007

Campanha de «serviços mínimos»

A campanha para as eleições intercalares autárquicas foi globalmente muito fraca. Os candidatos não se esforçaram, as televisões não se esforçaram, os jornais não se esforçaram. E os candidatos ou a Comissão Nacional de Eleições, que não sei por onde anda, não os obrigaram a esforçar-se. Tivemos assim uma espécie de campanha de serviços mínimos. A RTP fez um debate com o magote e houve umas mini-entrevistas, por obrigação, aos candidatos – e creio que não a todos – de que me lembro ter visto de passagem uma ou outra. As outras televisões quase a ignoraram. Assim sendo, decidi, desta vez, nem sequer pôr os pés na assembleia de voto. Registe-se que, desde que tenho capacidade de voto, só por uma vez, e por um motivo de força maior, deixei de cumprir o mais importante dever cívico da Pólis. Vou lá sempre, nem que seja para votar em branco – a maior parte das vezes – ou nulo, ultimamente. É uma forma de dizer ok ao sistema e ko aos seus agentes. Evoluo agora conscientemente para a abstenção, veremos se para durar. E faço-o porque o voto branco ou nulo não tem nenhuma leitura de penalização para os agentes do sistema político. É puramente residual. O que verdadeiramente os penaliza é a abstenção, porque põe em causa os alicerces do sistema e, em última análise, eles próprios. Lamento ter de fazê-lo, mas é a única forma de castigo que me resta para expressar o meu desgosto com a actual vida cívica da Pólis, a que se junta esta campanha de serviços mínimos. Terei provavelmente que deixar metabolizar este meu descontentamento com a qualidade da vida cívica da nossa Pólis e o pessoal político esforçar-se mais para, então, eu voltar a ir a votos, ainda que brancos, ou nulos...

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10 de julho de 2007

O Barateiro da Casa Amarela (Fotos da Pólis III)

Lisboa, Rádio S. Bento - O Barateiro da Casa Amarela
Foto - Pólis&etc.

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7 de julho de 2007

O efeito de estufa?!

Ontem ao entrar para uma reunião de trabalho, alguém me diz: «é ao fundo do corredor à esquerda». Um colega, que me acompanhava, pergunta-me: «ainda sabes onde é a esquerda?», e riu-se…
Anteontem, recebo um mail de uma colega de trabalho: uma piada ao Primeiro-Ministro. São às dezenas. Aliás, sendo congruente, José Sócrates deveria mandar investigar as caixas de correio electrónico dos 700 000 funcionários públicos deste país… Teria seguramente um número muito próximo dos 700 000 processos disciplinares… Essa colega, que tenho por desassombrada, frontal e directa, pedia-me, no final, para apagar aquele mail, just in case… É este hoje o clima…

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3 de julho de 2007

O ministro-pescador ou o pescador-ministro

O despudor que se pressentia aqui ou ali, em coisas mais ou menos subtis, tornou-se agora alarvemente grosseiro. Mostra-se e já tem pouco recato. Agride quem vê. E vai alastrando, qual mancha de óleo, até àqueles que, à primeira vista, pareciam, pelo seu carácter, blindados a ele. Desta feita, foi o ministro Jaime Silva que parece, também ele, querer ganhar o estatuto de cromo e de personagem da Pólis. Hoje, passeou-se em Matosinhos, com o comissário europeu das pescas, um tal Joe Borg. E deparou com um protesto de pescadores. Um protesto crítico, claro, mas civilizado. Um dos manifestantes disse qualquer coisa como: «A UE não nos dá nada, muito pelo contrário». E o cromo, em vez de estar calado, dizer qualquer coisa de pacificador ou fazer alguma conversa redonda, para empatar, como lhe pedia o estatuto, diz alarve: «Olhe, peça para sair da União Europeia». É claro que as declarações ficam com quem as profere. E naquele preciso momento, pensei, por instantes, que quem devia estar no lugar do ministro era o pescador e no lugar do pescador o ministro. O cromo apoucou-se aos olhos de todos e, mais grave, penso que nem sequer se deu conta disto…

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